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Documentário sobre Prestes é destaque do festival
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
Marcel Ophuls chega como a
grande atração internacional do
``2º Festival de Documentários'',
com exibição de seus filmes.
Do lado brasileiro -na mostra
competitiva- o destaque é um
trabalho que recupera uma figura
central para a história nacional.
``O Velho'', de Toni Venturi, é
um excelente documentário sobre
uma das figuras mais importantes
e controvertidas de nossa história
política: o líder comunista Luiz
Carlos Prestes (1898-1990).
Misturando preciosas imagens
de arquivo a depoimentos de personagens-chave (como o ex-governador Leonel Brizola, o arquiteto Oscar Niemeyer e o escritor
Carlos Heitor Cony), o filme passa
a limpo a romanesca e quase inverossímil trajetória de Prestes.
É provável que as novas gerações
não tenham idéia do que foi essa
trajetória -o que só aumenta a
importância do documentário.
Do levante tenentista de 1922, de
que participou o então jovem capitão Prestes, até os últimos anos, já
afastado do Partido Comunista,
mas ainda combativo, nada ficou
de fora do filme de Venturi.
Os destaques, obviamente, são a
Coluna Prestes (1925-27), que ele
liderou ao lado de Miguel Costa; a
frustrada insurreição armada de
1935 (a Intentona Comunista); os
dez anos de prisão sob a ditadura
de Getúlio; as lutas à frente (e dentro) do PCB; o exílio na URSS.
Senador mais votado do país logo depois de deixar a prisão (em
1945), Prestes tornou-se um líder
carismático e popular, conhecido
internacionalmente como ``Cavaleiro da Esperança''.
O stalinismo do próprio Prestes é
um dos temas discutidos no filme.
Historiadores falam sobre a formação militar e positivista que
marcaria para sempre as posições
nada flexíveis do líder comunista.
Todos, contudo, incluindo seus
filhos e até seus adversários políticos, destacam a contrapartida dessa rigidez bolchevique: a coragem
e a integridade ética absoluta.
O fascínio por essa figura tão
magnética e controvertida é evidente no filme, apesar de toda sua
pretensão de equilíbrio.
O envolvimento do cineasta com
seu objeto se explica, em parte, pelo longo tempo dedicado a ele.
Toni Venturi começou a pesquisar o assunto em 93. Em 95 iniciou
a gravação, em vídeo, dos depoimentos, que completou depois
com imagens captadas em filme
(de 16 e 35 mm). Acabou com 40
horas de material, que condensou
num longa de 105 minutos.
A única ausência significativa
entre as figuras entrevistadas no
documentário é a da filha mais conhecida do biografado, a historiadora e ativista política Anita Leocádia Prestes, que aparentemente
se opôs à realização do filme.
Uma outra versão do documentário será exibida como minissérie
de quatro capítulos no canal de TV
paga GNT a partir de hoje, sempre
às 21h. Na TV ou no cinema, é uma
oportunidade única de conhecer
um personagem igualmente singular, de um tempo em que o Brasil era um triste país que precisava
de heróis. (Agora, ao que parece,
só precisa de bons tesoureiros de
campanha e diretores de marketing).
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