São Paulo, quinta, 27 de março de 1997.

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Documentário sobre Prestes é destaque do festival

JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha

Marcel Ophuls chega como a grande atração internacional do ``2º Festival de Documentários'', com exibição de seus filmes.
Do lado brasileiro -na mostra competitiva- o destaque é um trabalho que recupera uma figura central para a história nacional.
``O Velho'', de Toni Venturi, é um excelente documentário sobre uma das figuras mais importantes e controvertidas de nossa história política: o líder comunista Luiz Carlos Prestes (1898-1990).
Misturando preciosas imagens de arquivo a depoimentos de personagens-chave (como o ex-governador Leonel Brizola, o arquiteto Oscar Niemeyer e o escritor Carlos Heitor Cony), o filme passa a limpo a romanesca e quase inverossímil trajetória de Prestes.
É provável que as novas gerações não tenham idéia do que foi essa trajetória -o que só aumenta a importância do documentário.
Do levante tenentista de 1922, de que participou o então jovem capitão Prestes, até os últimos anos, já afastado do Partido Comunista, mas ainda combativo, nada ficou de fora do filme de Venturi.
Os destaques, obviamente, são a Coluna Prestes (1925-27), que ele liderou ao lado de Miguel Costa; a frustrada insurreição armada de 1935 (a Intentona Comunista); os dez anos de prisão sob a ditadura de Getúlio; as lutas à frente (e dentro) do PCB; o exílio na URSS.
Senador mais votado do país logo depois de deixar a prisão (em 1945), Prestes tornou-se um líder carismático e popular, conhecido internacionalmente como ``Cavaleiro da Esperança''.
O stalinismo do próprio Prestes é um dos temas discutidos no filme. Historiadores falam sobre a formação militar e positivista que marcaria para sempre as posições nada flexíveis do líder comunista.
Todos, contudo, incluindo seus filhos e até seus adversários políticos, destacam a contrapartida dessa rigidez bolchevique: a coragem e a integridade ética absoluta.
O fascínio por essa figura tão magnética e controvertida é evidente no filme, apesar de toda sua pretensão de equilíbrio.
O envolvimento do cineasta com seu objeto se explica, em parte, pelo longo tempo dedicado a ele.
Toni Venturi começou a pesquisar o assunto em 93. Em 95 iniciou a gravação, em vídeo, dos depoimentos, que completou depois com imagens captadas em filme (de 16 e 35 mm). Acabou com 40 horas de material, que condensou num longa de 105 minutos.
A única ausência significativa entre as figuras entrevistadas no documentário é a da filha mais conhecida do biografado, a historiadora e ativista política Anita Leocádia Prestes, que aparentemente se opôs à realização do filme.
Uma outra versão do documentário será exibida como minissérie de quatro capítulos no canal de TV paga GNT a partir de hoje, sempre às 21h. Na TV ou no cinema, é uma oportunidade única de conhecer um personagem igualmente singular, de um tempo em que o Brasil era um triste país que precisava de heróis. (Agora, ao que parece, só precisa de bons tesoureiros de campanha e diretores de marketing).

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