São Paulo, quinta, 27 de março de 1997.

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PATRIMÔNIO
Convênio retoma reforma do teatro São Pedro, em SP

Reprodução/ Folha Imagem
foto de 1917 mostra a fachada original do teatro São Pedro, na r. Albuquerque Lins (Barra Funda)


PATRICIA DECIA
da Reportagem Local

Um convênio entre a Secretaria de Estado da Cultura e o ILAM (Instituto Latino-Americano) vai patrocinar a retomada das obras do teatro São Pedro, na Barra Funda (zona oeste de SP).
O teatro, que acaba de completar 80 anos -foi inaugurado em 1917-, está fechado desde 1984, ano em que também foi tombado, transformando-se em patrimônio histórico.
``São Paulo é uma cidade quase inteiramente destruída a cada 20, 30 anos. Então a importância maior, em termos arquitetônicos, do teatro São Pedro é que ele resistiu, conseguiu ficar em pé'', afirma Rita de Cássia Alves Vaz, 48, uma das arquitetas responsáveis pelo projeto de reforma.
As obras de recuperação do prédio começaram em 92, mas foram paralisadas um ano depois. Nesse período, foi concluída a restauração da fachada, poltronas deterioradas foram retiradas e toda a estrutura metálica e o telhado foram substituídos.
``A obra vinha se arrastando porque a secretaria ficou totalmente sem recursos para investir'', afirma o engenheiro Bento Carlos Martinez Neto, assessor de obras da Secretaria de Estado da Cultura.
O custo total da reforma foi estimado em R$ 12 milhões, mas, segundo Martinez, agora é preciso investir cerca de R$ 7 milhões na obra. Com o convênio assinado entre secretaria e ILAM, caberá ao instituto captar os recursos necessários. ``Já existe verba de cerca de R$ 3,6 milhões, captados junto à Telesp, com base na lei de incentivos fiscais'', afirma o engenheiro.
Outra mudança é que uma nova empresa deverá ser contratada para terminar a reforma. A Método, que iniciou o trabalho, está se retirando das obras públicas, já que o secretário estadual de Recursos Hídricos, Hugo Marques da Rosa, foi presidente da empresa.
De acordo com Martinez, também fica a cargo do ILAM, um instituto voltado para questões de integração da América Latina fundado pelo ex-governador Franco Montoro, a contratação de uma nova empreiteira. ``Eles assumirão toda a reforma e depois devolverão o prédio à secretaria'', disse.
A única cláusula de contrapartida no convênio, segundo o engenheiro, é que o teatro dará prioridade, em sua programação, à apresentação de artistas latino-americanos.
Art déco

Matuiti Mayezo/ Folha Imagem
o teatro hoje, com tapumes usados na reforma do edifício, que começou em 92 e está sendo retomada


Segundo a arquiteta Rita Vaz, o teatro São Pedro, construído pela comunidade portuguesa, mistura elementos art nouveau e neoclássicos, com um estilo que ela classifica de ``eclético''.
Um dos principais fatos que regem a história do São Pedro, teatro popular na década de 20, voltado para shows de variedades (leia texto abaixo), é que se trata de um teatro privado.
Assim, na década de 40, atendendo à demanda do mercado, o edifício virou cinema. Para isso, passou por uma grande reforma, que o descaracterizou. ``A cara dos grandes cinemas era o art déco, em Miami, Buenos Aires e até São Paulo. Então, transformaram o São Pedro,'', explica Vaz. Entre as intervenções, o gradil que delimitava o balcão foi coberto.
Com 800 lugares, 28 frisas, 28 camarotes com 5 lugares cada e 4 filas de balcão, o São Pedro será restaurado exatamente como era em 1917. Já foi realizado o trabalho de prospecção, que possibilita descobrir as características do prédio.
Novidades tecnológicas serão introduzidas na construção do palco e no projeto de acústica. Pela primeira vez no Brasil, serão usadas placas móveis de vidro para refletir o som. Segundo Vaz, isso possibilita que se mude a acústica, de acordo com as necessidades.

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