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Governo quer incentivar
só a cultura que dá lucro
Proposta cria fundo,
a ser gerido por bancos, para projetos rentáveis; modelo pretende substituir a atual lei de incentivo ao cinema
DANIEL CASTRO
da Reportagem Local
O governo federal está elaborando um novo mecanismo de fomento cultural que, ainda embrionário, já é polêmico.
O projeto, que deve ficar pronto
em 60 dias, pretende criar um
fundo de investimentos apenas
para projetos culturais que dão
lucro, coisa rara no país. O fundo
agrada aos cineastas que já estão
no mercado, mas afugenta iniciantes e é rejeitado por empresas
que patrocinam projetos culturais, como a Volkswagen.
A idéia original, de Andrea Matarazzo, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo, prevê que empresas e pessoas
físicas comprem cotas de fundos
geridos por bancos. Os investidores teriam o benefício da renúncia
fiscal, abatendo o valor no Imposto de Renda, e a promessa de
compartilhar os lucros do fundo.
Os bancos, por sua vez, aplicariam os recursos apenas em projetos rentáveis. Isso limitaria o
acesso ao fundo de projetos de
restauro, shows gratuitos e de cineastas e diretores de teatro iniciantes, por exemplo. Atualmente, qualquer projeto, rentável ou
não, pode ser aprovado pelo Ministério da Cultura e obter recursos diretamente nas empresas.
Segundo Matarazzo, esse fundo
deve substituir um dos atuais mecanismos federais de incentivo à
cultura, a Lei do Audiovisual, para
cinema e vídeo. Por essa lei, empresas investem em filmes, abatem integralmente o valor e ainda
podem receber dividendos, caso o
projeto dê lucro.
A Lei do Audiovisual, de 1993,
foi responsável pelo chamado
"renascimento" do cinema nacional. Por meio dela, 116 longas-metragens já foram produzidos
-mas menos de dez deles (como
"O Quatrilho" e "Central do Brasil") deram lucros e pagaram dividendos aos investidores.
Além disso, abalada pela falta de
credibilidade de projetos polêmicos, como o inacabado "Chatô, o
Rei do Brasil", de Guilherme Fontes, e de "O Guarani", de Norma
Bengell, a Lei do Audiovisual está
em queda desde 1997.
Em 97, no seu auge, foram captados R$ 75,4 milhões por meio
da lei. Em 99, a captação caiu para
R$ 35,8 milhões (veja quadro à
página 6-3), o que deve resultar na
queda de produção de novos filmes neste ano.
"Tive a idéia dos fundos discutindo com o banco Opportunity.
Quando viabilizado, o fundo deve
substituir a Lei do Audiovisual.
Mas existem outros aspectos. Há
filmes, como curtas-metragens,
que não são viáveis. Tem de haver
algum mecanismo para os curtas-metragens", diz Matarazzo.
Esse mecanismo, segundo o ministro da Cultura, Francisco Weffort, poderia ser a continuidade
da Lei do Audiovisual e da Lei
Rouanet, pela qual empresas patrocinam projetos culturais de todos os segmentos, não só de cinema, com maior exposição da
marca, mas com menor renúncia
fiscal. Em 99, pela Lei Rouanet foram captados R$ 196,4 milhões,
dos quais R$ 17,7 milhões para
projetos de audiovisual.
"A idéia do fundo é eliminar a
competição nas leis de incentivo
entre os projetos rentáveis e os
que não têm capacidade de se virar no mercado. Há muitos filmes
que pagam seus custos, mas estão
disputando o mesmo caixa dos
que não se pagam", afirma o ministro Weffort.
Para Matarazzo, no entanto,
não faz sentido a coexistência do
fundo e da Lei do Audiovisual.
"O cinema tem de ter viabilidade econômica. Hoje não é viável
porque o incentivo é feito de uma
forma que não estimula a viabilidade. Se tiver lucro, muito bem, se
não tiver, morreu. Assim nunca
vai se viabilizar uma indústria de
cinema. Por que dar incentivo fiscal para um longa-metragem que
não tem viabilidade? Se não é viável é porque é ruim, normalmente", diz Matarazzo.
O ministro-chefe de Comunicação, que integra um comitê recém-criado para orientar o investimento em cultura pelas estatais
federais, se diz espantado com a
quantidade de projetos em busca
de incentivo.
"É interessante a quantidade de
projetos e a quantidade de micos,
coisas sem pé nem cabeça em termos de custos."
A criação do fundo de investimento em cultura ainda vai dar o
que falar. O mercado cinematográfico quer que o fundo seja só
para projetos audiovisuais.
Grandes patrocinadores, como
a Volkswagen, acreditam que a
idéia é inviável.
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