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Aleijadinho recupera cor em filme mineiro
da Agência Folha, em Belo Horizonte
O escultor e arquiteto Antônio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho,
considerado o mais importante
artista do barroco brasileiro, vai
recuperar sua cor no cinema. Ele
será vivido pelo ator negro Maurício Gonçalves no filme "O Aleijadinho", de Geraldo Santos Pereira, previsto para estrear em maio.
Na outra cinebiografia do artista já realizada pelo cinema, "Cristo de Lama (A História do Aleijadinho)", uma produção carioca
de 68 dirigida por Wilson Silva,
ele era interpretado por Geraldo
del Rey, um ator branco e de
olhos claros. No especial produzido pela TV Globo na década de
70, o ator escolhido foi Stênio
Garcia, também branco.
Apesar dos inúmeros pontos
que permanecem obscuros sobre
a vida de Aleijadinho (1738?
-1814), não há dúvida, entre os estudiosos, de que ele era negro.
Para o diretor Geraldo Santos
Pereira, 75, Maurício Gonçalves,
filho do também ator Milton
Gonçalves, se encaixou com perfeição no papel, pois nasceu de
um casamento inter-racial- como Aleijadinho, que era filho de
um português com uma escrava.
O elenco da produção, cujo orçamento foi de R$ 2,3 milhões,
tem mais atores negros no elenco:
Ruth de Souza, Maria Ceiça e a
mineira Aruana Zambi, entre outros. Nos papéis do pai de Aleijadinho e do poeta Cláudio Manoel
da Costa, atuam, respectivamente, Edwin Luisi e Carlos Vereza.
No filme, a vida do artista é narrada em "flashback", a partir do
depoimento de sua nora para o
historiador Rodrigo Bretas, que
serviu de base para o primeiro livro escrito sobre sua vida, ainda
no século passado.
"Eu procurei fazer o filme o
mais fiel possível, mas não é um
documentário. Tem um pouco de
ficção", diz Santos Pereira. Em
nome da fidelidade, o cineasta
não toma partido sobre a causa da
doença que provocou a deformação do corpo do artista. Há várias
hipóteses levantadas pelos historiadores: lepra, escorbuto, encefalite, sífilis e porfiria (um tipo de alteração do metabolismo).
O cineasta encampa a versão
polêmica de assassinato, e não
suicídio, do poeta Cláudio Manoel da Costa, durante o processo
que incriminou os inconfidentes
mineiros. "Sabe-se modernamente que o homem mais rico da
capitania, João Rodrigues de Macedo, esteve envolvido com a Inconfidência Mineira e, temendo
ser delatado por Cláudio Manoel,
preparou seu assassinato", diz.
Geraldo Santos Pereira realizou
apenas seis longas em mais de 40
anos de carreira, dois deles com o
irmão Renato Santos Pereira, que
morreu no ano passado.
"O Aleijadinho" seria o longa de
estréia dos irmãos Santos Pereira,
na década de 50. Recém-formados em cinema pelo prestigiado
Idhec (Institute des Hautes Études Cinématographiques), de Paris, eles trabalhavam como assistentes de direção da Vera Cruz.
Na época, o estúdio paulista encomendou um roteiro para filmar a
vida do artista.
Os irmãos viajaram para Ouro
Preto (MG), onde Aleijadinho viveu a maior parte de sua vida,
mas, na volta a São Paulo, a Vera
Cruz tinha fechado as portas. Em
seu lugar, foi criada outra produtora, mas não havia recursos para
uma produção de época.
Eles filmaram então "Rebelião
em Vila Rica" (57), uma paráfrase
da Inconfidência Mineira no século 20 e primeiro filme brasileiro
a usar negativo colorido.
(CARLOS HENRIQUE SANTIAGO)
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