São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 2000


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FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA

Fringe atrai metade do público do evento

VALMIR SANTOS
enviado especial a Curitiba



Em seu terceiro ano consecutivo, a mostra paralela Fringe, que já vinha surpreendendo em qualidade, também está pari passu com a quantidade de público da Mostra Oficial. Encerrado ontem, o 9º Festival de Teatro de Curitiba teve cerca de 80 mil espectadores, segundo estimativa da organização -metade para a oficial e outros 40 mil para o Fringe (incluídos 250 participantes de oficinas realizadas ao longo de 11 dias de programação).
Foram encenadas 21 peças na mostra principal e 44 na paralela. Na conversa com os jornalistas, sábado à tarde, os sócios da Calvin Entretenimento, empresa organizadora do festival, se debruçaram mais sobre as virtudes e vicissitudes do Fringe. "Vamos aumentar o número de espaços para a mostra", promete Leandro Knopfholz, 26, referindo-se aos 16 endereços. Houve excedente de pelo menos 160 espetáculos inscritos de vários Estados, que não puderam participar.
"Também vamos procurar espaços mais adequados", continua Knopfholz. Palcos alternativos mal equipados ou mal localizados foram alvo de reclamações. "Não bastasse o ônus de cada produção em arcar com todas as despesas (hospedagem, alimentação e transporte), a organização ainda nos oferece espaços que não são exatamente teatros, com platéia plana e longe do acesso do público", critica a atriz e coreógrafa Alice K., 42.
Ela levou para o Fringe o monólogo "Solitude", apresentado no Canal da Música, bairro de Mercês, que possui três salas de audição conjugadas com 40 lugares cada uma. Na montagem inspirada no teatro Nô -no qual silêncio é ouro-, Alice foi prejudicada pelo vazamento da trilha sonora das encenações vizinhas que aconteciam no mesmo horário.
"Será que a organização não percebe que quantidade não é qualidade?", questiona Alice. Para participar do Fringe, cada companhia paga R$ 50 (taxa diária, independente do número de sessões) e arca com os demais custos, com participação de 80% da bilheteria. Na oficial, é convidada, recebe cachê e demais recursos para a montagem.
O empresário Victor Aronis, 38, que neste ano concentrou a organização, reconhece que o Canal da Música apresentou problemas. "A cidade ainda não o conhecia", justifica a irregularidade de público. O ator paraibano Tavinho Moura, por exemplo, cancelou as demais sessões do monólogo "Deus Somos Nós" porque não tinha "viva alma" na primeira apresentação, apesar de o público ter aumentado, sobretudo na segunda semana, devido ao boca-a-boca.
Já a montagem carioca de "Pelo Buraco da Fechadura" radicalizou ao não cobrar ingressos. A panfletagem pela cidade chegou a levar 70 pessoas numa das sessões, 30 a mais do que a capacidade da sala.
Uma das saídas para a concentração de espetáculos no Fringe (foram 19 no sábado, por exemplo, a maioria com sessões às 18h e 0h) é "soltar as amarras dos horários", diz Aronis, inclusive avançando para a faixa da Mostra Oficial, às 20h e 21h30.
O encenador Gerald Thomas, 44, diz sentir falta do debate de idéias em Curitiba. "A gente chega, tem poucos dias para entrar no palco... Entendo que o festival não tenha dinheiro e "infra" para manter pessoas em torno de debates, mas acho que o lucro seria maior com as conferências. Tem muita gente que quer se encontrar e não consegue", afirma.
Segundo Aronis, uma tendência deste ano foi a presença de grupos estáveis com grandes elencos em detrimento dos monólogos da edição passada.
Para 2001, quando o festival completa dez anos, a curadoria seguirá priorizando estréias na Mostra Oficial. Aronis acena, porém, com uma retrospectiva das melhores montagens da década (remontagens, no caso).


O jornalista Valmir Santos viaja a convite do festival

Saiba mais sobre o Festival de Teatro de Curitiba na Internet em www.uol.com.br/fol




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