|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Maratona destacou o melhor teatro de Norte a Sul
NELSON DE SÁ
enviado especial a Curitiba
Três anos e o Fringe do Festival
de Curitiba, desta vez uma maratona com quase 50 espetáculos,
mostrou que o melhor teatro brasileiro não é necessariamente
aquele das figuras carimbadas do
Rio e São Paulo-ou seja, os mesmos que ocupam a Mostra Oficial
do evento, ano após ano.
Perdida nos horários mais estranhos para que não tirasse público dos espetáculos oficiais
-nos finais de tarde, ao meio-dia
e à meia-noite-, a paralela deu
destaque a Salvador e à própria
Curitiba, entre muitas outras.
Este ano a proporção de montagens da própria cidade no Fringe
foi bem menor -e a qualidade
foi maior, como nos casos de "A
Vida É Cheia de Som e Fúria",
longo espetáculo neo-romântico
do diretor Felipe Hirsch e do ator
Guilherme Weber, que passaram
a semana recebendo convites para apresentações no Rio e em São
Paulo, e de "A Dança da Morte",
dos Satyros.
Da Bahia vieram a hilariante comédia "Idiotas Que Falam Outra
Língua", do diretor Fernando
Guerreiro, com texto de Rubem
Fonseca, e o bom monólogo
"Francisco".
O melhor de rua
Do Rio Grande do Sul, com forte marca regional, veio o melhor
espetáculo de rua, "Deus e o Diabo na Terra de Miséria", de Hamilton Leite.
E veio montagem de Brasília, do
interior de São Paulo; não faltou
nem Alemanha, no Fringe. No caso, foi um monólogo sobre Olga
Benario, "Espaço de Olga", criado
e de boa carreira na Alemanha e
Áustria, com uma atuação nuançada e marcante de Carla Bessa.
De São Paulo, a surpresa foi
"Um Credor da Fazenda Nacional", de Qorpo-Santo, autor brasileiro que provavelmente jamais
seria apresentado na mostra oficial e que recebeu de Georgette
Fadel uma encenação à altura de
seu desvario.
Destaque do Rio
Também no Fringe, o Rio apresentou a mais inteligente e delicada peça metalinguística de todo o
festival: "Pequenos Trabalhos para Velhos Palhaços", encenada
por André Paes Leme e que apresenta com humor, mas também
alguma crueldade, o fim da carreira e da vida de três palhaços/atores.
Não faltou confusão na mostra
paralela. Também não faltaram
decepções, como "HH (informe-se)", de Ana Kfouri, e até mesmo
vários desastres, como "As Meninas". Mas o Fringe, no Brasil como em todas as partes em que
surgiu com o mesmo nome, de
Edimburgo ao Canadá e a várias
partes da Europa, é assim mesmo.
A poderosa oficial
Além do horário, a mostra paralela teve que concorrer com uma
mostra oficial que já não se sustenta em tamanho. São peças demais com financiamento -e
qualidade- de menos, muito ao
contrário do que acontece, por
exemplo, em Edimburgo, o maior
festival do mundo.
Um pouco por efeito da diversidade de correntes teatrais na última década, o festival de Curitiba
se firmou como uma mostra de
estréias.
Ao contrário de outros no país e
na América Latina, o festival evita
estabelecer linhas fechadas,
abrangendo o maior número possível de tendências.
Seu parâmetro é a estréia, o que
o torna, em princípio, uma privilegiada visão da temporada que
começa. Mas o modelo mostrou
problemas este ano.
As estréias de Gerald Thomas
("Coro e Camarim"), Antônio
Abujamra ("Crimes Delicados") e
vários outros foram ao palco ainda distantes da forma definitiva,
com finais aparentemente improvisados, tornando ainda maior o
contraste com os espetáculos já
prontos -e até com o próprio
Fringe, na verdade.
Assim, imperaram na mostra
oficial "Apocalipse 1,11", dirigido
por Antônio Araújo, "A Máquina", dirigido por João Falcão, e
"Kronos", da Intrépida Trupe, todos já afinados -e consagrados- em temporadas em São
Paulo, Recife e no Rio, respectivamente.
Até mesmo "Dédalus", dirigida
por Sérgio Penna e Renato Cohen, com internos de hospital psiquiátrico, a peça mais marcante
da chamada mostra dos incluídos, parte da mostra oficial, já
veio a Curitiba depois de duas
temporadas em São Paulo.
Texto Anterior: Festival de Teatro de Curitiba: Fringe atrai metade do público do evento Próximo Texto: Documentário: Filme divide "filhos do tropicalismo" Índice
|