São Paulo, segunda-feira, 27 de março de 2000


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Maratona destacou o melhor teatro de Norte a Sul

NELSON DE SÁ
enviado especial a Curitiba

Três anos e o Fringe do Festival de Curitiba, desta vez uma maratona com quase 50 espetáculos, mostrou que o melhor teatro brasileiro não é necessariamente aquele das figuras carimbadas do Rio e São Paulo-ou seja, os mesmos que ocupam a Mostra Oficial do evento, ano após ano.
Perdida nos horários mais estranhos para que não tirasse público dos espetáculos oficiais -nos finais de tarde, ao meio-dia e à meia-noite-, a paralela deu destaque a Salvador e à própria Curitiba, entre muitas outras.
Este ano a proporção de montagens da própria cidade no Fringe foi bem menor -e a qualidade foi maior, como nos casos de "A Vida É Cheia de Som e Fúria", longo espetáculo neo-romântico do diretor Felipe Hirsch e do ator Guilherme Weber, que passaram a semana recebendo convites para apresentações no Rio e em São Paulo, e de "A Dança da Morte", dos Satyros.
Da Bahia vieram a hilariante comédia "Idiotas Que Falam Outra Língua", do diretor Fernando Guerreiro, com texto de Rubem Fonseca, e o bom monólogo "Francisco".

O melhor de rua
Do Rio Grande do Sul, com forte marca regional, veio o melhor espetáculo de rua, "Deus e o Diabo na Terra de Miséria", de Hamilton Leite.
E veio montagem de Brasília, do interior de São Paulo; não faltou nem Alemanha, no Fringe. No caso, foi um monólogo sobre Olga Benario, "Espaço de Olga", criado e de boa carreira na Alemanha e Áustria, com uma atuação nuançada e marcante de Carla Bessa.
De São Paulo, a surpresa foi "Um Credor da Fazenda Nacional", de Qorpo-Santo, autor brasileiro que provavelmente jamais seria apresentado na mostra oficial e que recebeu de Georgette Fadel uma encenação à altura de seu desvario.

Destaque do Rio
Também no Fringe, o Rio apresentou a mais inteligente e delicada peça metalinguística de todo o festival: "Pequenos Trabalhos para Velhos Palhaços", encenada por André Paes Leme e que apresenta com humor, mas também alguma crueldade, o fim da carreira e da vida de três palhaços/atores.
Não faltou confusão na mostra paralela. Também não faltaram decepções, como "HH (informe-se)", de Ana Kfouri, e até mesmo vários desastres, como "As Meninas". Mas o Fringe, no Brasil como em todas as partes em que surgiu com o mesmo nome, de Edimburgo ao Canadá e a várias partes da Europa, é assim mesmo.

A poderosa oficial
Além do horário, a mostra paralela teve que concorrer com uma mostra oficial que já não se sustenta em tamanho. São peças demais com financiamento -e qualidade- de menos, muito ao contrário do que acontece, por exemplo, em Edimburgo, o maior festival do mundo.
Um pouco por efeito da diversidade de correntes teatrais na última década, o festival de Curitiba se firmou como uma mostra de estréias.
Ao contrário de outros no país e na América Latina, o festival evita estabelecer linhas fechadas, abrangendo o maior número possível de tendências.
Seu parâmetro é a estréia, o que o torna, em princípio, uma privilegiada visão da temporada que começa. Mas o modelo mostrou problemas este ano.
As estréias de Gerald Thomas ("Coro e Camarim"), Antônio Abujamra ("Crimes Delicados") e vários outros foram ao palco ainda distantes da forma definitiva, com finais aparentemente improvisados, tornando ainda maior o contraste com os espetáculos já prontos -e até com o próprio Fringe, na verdade.
Assim, imperaram na mostra oficial "Apocalipse 1,11", dirigido por Antônio Araújo, "A Máquina", dirigido por João Falcão, e "Kronos", da Intrépida Trupe, todos já afinados -e consagrados- em temporadas em São Paulo, Recife e no Rio, respectivamente.
Até mesmo "Dédalus", dirigida por Sérgio Penna e Renato Cohen, com internos de hospital psiquiátrico, a peça mais marcante da chamada mostra dos incluídos, parte da mostra oficial, já veio a Curitiba depois de duas temporadas em São Paulo.



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