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Editora relança seus clássicos na onda da aventura
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Quando se achava que a literatura tinha dado o último suspiro,
"Harry Potter" trouxe uma nova
luz ao mercado. Luz e lucro. E fizeram a conta: se há público para
Potter, deve haver para outros.
Lembraram-se de clássicos e
mais clássicos do mesmo gênero,
empoeirados em estantes, escritos antes de Walter Benjamin decretar o fim da narrativa. E agora a
editora Record relança a "Coleção
Clássicos de Aventura", coordenada por Heloisa Seixas, com novas traduções e projeto gráfico.
Já estão nas livrarias "A Ilha do
Tesouro", de Robert Louis Stevenson, e "Ela", de H. Rider Haggard, traduzido por Seixas, autora
de livros como "A Porta" (1996).
Em breve, saem do prelo "Robinson Crusoé", de Daniel Defoe,
"Ayesha - A Volta de Ela", de
Haggard, "Moonfleet", de J. M.
Falkner, e "As Viagens de Gulliver", de Jonathan Swift.
Em comum entre eles, escritos
há mais de um século, o fato de
seus autores virem do Reino Unido, o que leva a uma reflexão:
apertados numa ilha, herdeiros
de um império em que o sol não
se punha, poucos conseguiam
contar histórias como eles. Os
conterrâneos de Shakespeare
criam relatos de naufrágios e não
escondem o ímpeto por narrativas que apontam os espantos de
encontros entre anglo-saxões e
povos ditos primitivos.
O "boom Potter" indicou que a
era dos livros não chegara à beira
do abismo. Um atalho se construiu: levas de garotos e adultos
voltaram a entrar em filas, como
no passado, aguardando ansiosamente o lançamento de uma nova
obra da inglesa Joanne Kathleen
Rowling e de seu concorrente, o
sul-africano J.R.R. Tolkien, autor
da trilogia "O Senhor dos Anéis".
Mas o relançamento dos clássicos
indica: nem só com bruxos e anéis
se faz uma literatura envolvente.
"A Ilha do Tesouro", de Stevenson, que, aos 40 anos, se mudou
para a ilha de Samoa, onde morreu, não é uma história de magia
ou de anéis com superpoderes. É
de marinheiros bêbados, que perderam membros do corpo na defesa do país do rei Jorge, atolados
em rum, pirataria, traição e, como
diz o nome, caça ao tesouro.
Jim Hawkins, o menino que
narra o livro, cuida da estalagem
Almirante Benbow, do pai doente. Vira servente de um dos hóspedes, um verdadeiro lobo-do-mar, "o tipo de homem que tornava a Inglaterra terrível no mar".
Quando morre, o bucaneiro
deixa uma dívida na estalagem. O
menino e sua mãe resolvem abrir
seu baú. Nele, acham um embrulho com o mapa de uma ilha com
tesouros que corsários pilharam.
Uma expedição é organizada.
Marujos são contratados. A viagem ao desconhecido ganha sentido, uma ilha de 14 quilômetros
de comprimento e oito de largura,
na forma de um dragão gordo.
Já "Ela" narra uma expedição
organizada por dois professores,
Leo Vincey e Horace Holly, desta
vez pela África, em busca de uma
civilização perdida, os Amahagger, liderada por uma mulher
imortal, Ayesha, conhecida como
"aquela que deve ser obedecida,
amada e desejada", que usava surdos-mudos como serviçais.
O autor é mais conhecido por
"As Minas do Rei Salomão". Inspirou, entre outros, Tolkien,
Freud e Jung, que comparava
Ayesha ao mito da sabedoria e beleza, como Ísis e Afrodite. Haggard constrói sua narrativa como
um cientista aventureiro. Descreve o que vê, como um naturalista
desenha uma espécie nova.
A ILHA DO TESOURO. De: Robert Louis
Stevenson. Tradutor: Alves Calado.
Editora: Record. Quanto: R$ 39 (352
págs.).
ELA. De: H. Rider Haggard. Tradutora:
Heloisa Seixas. Editora: Record. Quanto:
R$ 48 (464 págs.).
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