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Sociedade alternativa
"Novos Baianos F.C.", que passa hoje no festival In-Edit, traz grupo nos anos 70, quando vivia em sítio comunitário
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os pássaros cantam e o Sol
nasce em Jacarepaguá em um
dia de 1973. Na primeira casa,
acordam o casal Paulinho Boca
de Cantor e Marilinha e os filhos Maria e Gil. Quase em
frente, Moraes Moreira e Marília, com os filhos Ciça e Davi.
Lá no fundo, em uma casa,
Luiz Galvão, na outra, Baby do
Brasil, então Consuelo. Ainda
em outra, os percussionistas
Bola, Jorginho e Charles e os
outros solteiros acampados no
primeiro andar.
Todos fazem café, as crianças
tomam banho no quintal, uma
massagem aqui, uma panela no
fogo ali. Alguns batucam um
tamborim, um cavaquinho ou
violão. E, a qualquer hora, o dia
inteiro, futebol. Se não tocavam, jogavam bola.
Era o sítio Cantinho do Vovô,
no povoado Boca do Mato, estrada dos Bandeirantes, zona
oeste do Rio de Janeiro. Onde
se instalaram os Novos Baianos
mais esposas, filhos, amigos e
tantos agregados, na época do
sucesso de "Acabou Chorare" e
enquanto preparavam o disco
seguinte, "Novos Baianos F.C.".
Neste momento entra em cena, câmeras, sonoplastas e
equipe a postos, Solano Ribeiro, produzindo e dirigindo documentários para a televisão
alemã. Alguns anos antes, Solano estava por trás dos famosos
Festivais de Música Brasileira,
agora produzia como free-lance projetos como esse.
Dez dias acompanhando a vida dos Novos Baianos em comunidade hippie e o resultado
é o revelador e quase inédito
documentário "Novos Baianos
F.C", em exibição única hoje,
com participação do diretor e
do produtor musical Zuza Homem de Mello.
"Quando fiz a primeira proposta, achei que não ia ter filme", conta Solano. "Os Novos
Baianos eram inadministráveis. Mas eu falei: "Vamos fazer
uma coisa? Vocês fiquem aqui e
eu venho todo dia com a equipe
alemã, a gente se instala e vamos documentando a vida de
vocês". Foi a única maneira que
encontrei de fazer o filme, registrar tudo naturalmente."
Inédito no Brasil há mais de
30 anos, mas cult na internet
(mais de 500 mil visualizações
no YouTube), o documentário
traz caprichada filmagem, captada em película e montada e finalizada na Alemanha, intercalando imagens plácidas e naturalistas dos artistas jogando,
brincando e tocando, joviais e
geniais, com locução de Solano
sobre textos dele e de Galvão.
Tudo muito neossocialista e
libertário, mas também muito
limpo, organizado, cuidadoso e
com alguns dos nossos músicos
mais incríveis em ponto de
ebulição. "Fico muito feliz de
ver que é um registro do melhor momento da música dos
Novos Baianos", nota o diretor.
"Eu sabia que, naquele momento, era o que estava acontecendo de mais interessante pra
mostrar pra fora do Brasil. Não
só pelo estilo de vida deles, mas
pela música muito rica que faziam. Tinham uma ligação forte com a música brasileira, música antiga, mas tudo apresentado de uma maneira e com
uma instrumentação nova."
Sem falar no campo: eles se
achavam melhores jogadores
de futebol do que músicos. As
imagens de jogos mostram a seriedade do negócio. E a única
condição imposta pela banda,
também, que a filmagem acabasse antes do jogo do Vasco.
"Eles me disseram, "Bicho, se
você não terminar aqui, nós vamos largar você com as câmeras ligadas e vamos pro jogo'", ri
Solano. "A gente vê no filme,
minutos antes de saírem, eles
tocando "Besta É Tu". Número
musical que acho dos mais extraordinários, com o Galvão
dançando no fundo, que mostra a cabeça e o espírito desses
caras."
NOVOS BAIANOS F.C.
Quando: hoje, às 18h
Onde: MIS (av. Europa, 158; tel. 0/
xx/11/2117-4777)
Quanto: grátis
Classificação: livre
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