São Paulo, sábado, 27 de março de 2010

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Sociedade alternativa

"Novos Baianos F.C.", que passa hoje no festival In-Edit, traz grupo nos anos 70, quando vivia em sítio comunitário

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os pássaros cantam e o Sol nasce em Jacarepaguá em um dia de 1973. Na primeira casa, acordam o casal Paulinho Boca de Cantor e Marilinha e os filhos Maria e Gil. Quase em frente, Moraes Moreira e Marília, com os filhos Ciça e Davi.
Lá no fundo, em uma casa, Luiz Galvão, na outra, Baby do Brasil, então Consuelo. Ainda em outra, os percussionistas Bola, Jorginho e Charles e os outros solteiros acampados no primeiro andar.
Todos fazem café, as crianças tomam banho no quintal, uma massagem aqui, uma panela no fogo ali. Alguns batucam um tamborim, um cavaquinho ou violão. E, a qualquer hora, o dia inteiro, futebol. Se não tocavam, jogavam bola.
Era o sítio Cantinho do Vovô, no povoado Boca do Mato, estrada dos Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro. Onde se instalaram os Novos Baianos mais esposas, filhos, amigos e tantos agregados, na época do sucesso de "Acabou Chorare" e enquanto preparavam o disco seguinte, "Novos Baianos F.C.".
Neste momento entra em cena, câmeras, sonoplastas e equipe a postos, Solano Ribeiro, produzindo e dirigindo documentários para a televisão alemã. Alguns anos antes, Solano estava por trás dos famosos Festivais de Música Brasileira, agora produzia como free-lance projetos como esse.
Dez dias acompanhando a vida dos Novos Baianos em comunidade hippie e o resultado é o revelador e quase inédito documentário "Novos Baianos F.C", em exibição única hoje, com participação do diretor e do produtor musical Zuza Homem de Mello.
"Quando fiz a primeira proposta, achei que não ia ter filme", conta Solano. "Os Novos Baianos eram inadministráveis. Mas eu falei: "Vamos fazer uma coisa? Vocês fiquem aqui e eu venho todo dia com a equipe alemã, a gente se instala e vamos documentando a vida de vocês". Foi a única maneira que encontrei de fazer o filme, registrar tudo naturalmente."
Inédito no Brasil há mais de 30 anos, mas cult na internet (mais de 500 mil visualizações no YouTube), o documentário traz caprichada filmagem, captada em película e montada e finalizada na Alemanha, intercalando imagens plácidas e naturalistas dos artistas jogando, brincando e tocando, joviais e geniais, com locução de Solano sobre textos dele e de Galvão.
Tudo muito neossocialista e libertário, mas também muito limpo, organizado, cuidadoso e com alguns dos nossos músicos mais incríveis em ponto de ebulição. "Fico muito feliz de ver que é um registro do melhor momento da música dos Novos Baianos", nota o diretor.
"Eu sabia que, naquele momento, era o que estava acontecendo de mais interessante pra mostrar pra fora do Brasil. Não só pelo estilo de vida deles, mas pela música muito rica que faziam. Tinham uma ligação forte com a música brasileira, música antiga, mas tudo apresentado de uma maneira e com uma instrumentação nova."
Sem falar no campo: eles se achavam melhores jogadores de futebol do que músicos. As imagens de jogos mostram a seriedade do negócio. E a única condição imposta pela banda, também, que a filmagem acabasse antes do jogo do Vasco.
"Eles me disseram, "Bicho, se você não terminar aqui, nós vamos largar você com as câmeras ligadas e vamos pro jogo'", ri Solano. "A gente vê no filme, minutos antes de saírem, eles tocando "Besta É Tu". Número musical que acho dos mais extraordinários, com o Galvão dançando no fundo, que mostra a cabeça e o espírito desses caras."


NOVOS BAIANOS F.C.

Quando: hoje, às 18h
Onde: MIS (av. Europa, 158; tel. 0/ xx/11/2117-4777)
Quanto: grátis
Classificação: livre




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