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Filme busca nos rostos o sentido do mundo
especial para a Folha
Os filmes de Van der Keuken são
ao mesmo tempo sobre tudo e sobre nada. O festival É Tudo Verdade exibe 11 deles -de "Herman
Slobbe - Criança Cega 2" (1966) ao
recente "Estúdio Fotográfico To
Sang" (1997), sobre um fotógrafo
chinês em Amsterdã- mais um
documentário sobre o cineasta:
"Vivendo com seus Olhos", de Ramon Giegling.
"Metais sem Fronteiras" (1993)
trata da introdução de instrumentos de sopro na Ásia, Suriname e
África. "Beleza" (1970) trata do
mundo onírico de um espião fascista. "Amsterdã Global Village"
(1996), de uma multiplicidade de
personagens numa só cidade. Mas,
de todos, "Face Value" ("Valor de
Face") talvez seja o que melhor represente a busca do cineasta.
Ao filmar rostos de gente em
Londres, Marselha, Praga, na Alemanha e na Holanda, ele tenta arrancar deles algum significado
oculto que parecem guardar, o
próprio sentido do mundo.
São rostos sem a menor relação
uns com os outros, falando ou apenas olhando para a câmera enquanto o espectador ouve suas vozes em off dizer coisas por vezes as
mais banais sobre o que fazem.
Podem ser crianças fantasiadas
para serem fotografadas ou uma
mulher contorcionista comentando o próprio show. Podem ser jovens muçulmanos de origem argelina em Marselha ou ingleses ricos
jogando pólo. Podem ser boxeadores ou simpatizantes da Frente National, o partido francês de extrema direita.
Nada é explicado ou contextualizado. Não há juízos de valor. Não
chega nem mesmo a haver uma
montagem de imagens aparentemente díspares, como em Godard
ou Eisenstein, formando um sentido muito claro pelo confronto. São
sequências dispostas umas após as
outras e que criam uma certa perturbação e uma certa emoção justamente por não terem nada a ver
umas com as outras além do fato
de serem cenas de gente vivendo
no mesmo planeta.
As perguntas que os filmes parecem fazer o tempo inteiro são: Alguma coisa acontece no mundo,
mas onde? E o quê? A câmera tenta
arrancar dos rostos a resposta que
eles não dão. E o documentário
passa a funcionar mais como catalisador de perplexidades do que
como revelação ou denúncia.
(BC)
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