FRANCESCA ANGIOLILLO
free-lance para a Folha

Anteontem em um auditório improvisado num dos prédios que construiu -o pavilhão Manoel da Nóbrega, no parque Ibirapuera, em São Paulo-Oscar Niemeyer provou que não só é o mais famoso arquiteto brasileiro de todos os tempos como também é um ídolo venerado por seus seguidores.
Mais de uma hora antes do início da palestra, a audiência, composta quase só por estudantes de arquitetura, lotava as cerca de 50 cadeiras cor-de-laranja e todo o chão do recinto.
Já ao passear pela mostra do arquiteto, no mesmo pavilhão, os estudantes mostravam reverência diante dos painéis fotográficos e maquetes expostos, com um misto de admiração e intimidade. "Olha, o "Congressinho'!", dizia uma estudante, olhando com carinho o modelo do primeiro projeto de Niemeyer para Brasília.
O arquiteto, como é seu hábito, fez mais do que falar. Munido de caneta, desenhou sua trajetória sobre um grande painel, do complexo da Pampulha (Belo Horizonte, 1940) até a torre que está projetando em Brighton, Inglaterra.
Comunista declarado, o arquiteto concluiu sua fala criticando as privatizações: "Vivemos um momento de reflexão sobre o que estão fazendo com o que é nosso; isso é mais importante do que a arquitetura".
À saída, foi "engolido" pela multidão de estudantes que, não contente com a lição do mestre, queria seu autógrafo. O clima era de histeria; podia-se pensar que era a porta de camarim de um astro do rock.


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