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LIVROS
Brasil quer integrar mundo multiétnico
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
O historiador americano especializado em Rússia James Billington, diretor da Biblioteca do Congresso dos EUA, acha que os integrantes da "pequena fraternidade
dos países continentais com população multiétnica" precisam dialogar mais e se conhecer melhor.
Depois de uma semana no Brasil,
a primeira de seus 69 anos, ele parece ter se convencido de que este
país tem condições de contribuir
para que tal estreitamento de relações internacionais ocorra.
Na última segunda à noite, ele falou à Folha sobre suas impressões
da viagem. O assunto que dominou seus encontros com o presidente Fernando Henrique Cardoso e os ministros Francisco Weffort (Cultura) e Ronaldo Sardenberg (Projetos Especiais) foi a integração do Brasil ao projeto Frontiers (Fronteiras).
O projeto é a grande paixão atual
de Billington, doutor por Oxford,
professor em Harvard e Princeton,
diretor por 14 anos do Woodrow
Wilson Center (onde conheceu
FHC, que na época ajudava a selecionar os bolsistas latino-americanos) e, desde 1987, o 13º diretor da
maior biblioteca do mundo.
O projeto Fronteiras mal começou. Um modelo do que pretende
vir a ser deverá estar acessível na
Internet até outubro deste ano. A
idéia, por enquanto, é comparar
experiências históricas, por meio
de documentos e textos analíticos,
de sociedades de vastas dimensões
geográficas. EUA e Rússia já são alvos dessa comparação.
Coletado o material básico, ele
estará nos sistemas escolar e cultural das nações participantes para
que os erros e acertos do passado
de cada uma ajudem as demais a
encontrarem suas soluções.
Billington já previa a inclusão de
Austrália e Canadá no grupo e, a
partir de agora, se diz um entusiasta da entrada do Brasil. Ele se mostrou impressionado com o que viu
na Biblioteca Nacional, em especial com o projeto Resgate, que está digitalizando a documentação
histórica do Brasil colonial e uma
notável coleção de fotos e mapas.
Questão racial
O diretor da Biblioteca do Congresso vê significativas semelhanças entre os EUA, a Rússia e o Brasil. Os três se formaram como extensões da civilização européia em
grandes áreas escassamente povoadas, expandiram fronteiras
acompanhando longos rios e graças a motivações de ordem religiosa e econômica (entre elas, a atração por pedras e metais preciosos).
Claro que também há diferenças:
na Rússia não há a participação do
elemento africano na composição
étnica, e o Brasil é tropical e banhado por apenas um oceano.
Mas, basicamente, Billington
acredita que os três países têm
muito a aprender um com o outro.
O que o Brasil pode extrair da experiência norte-americana para
evitar as dificuldades históricas
que os EUA têm com a questão racial?, por exemplo.
Ressaltando ser um "expert de
uma semana" em Brasil, Billington
respondeu que este país pode vir a
enfrentar, no futuro, alguns dos
problemas de divisão étnica que
marcam a vida social nos EUA ao
ocorrer uma afirmação econômica
e social mais decidida da população afro-brasileira.
Uma forma de evitá-los seria, a
seu ver, os brasileiros continuarem
a manter como um traço central de
sua mentalidade coletiva a noção
de que a igualdade racial é um valor desejável, mesmo que ele não
tenha sido ainda alcançado.
"Subculturas intelectuais"
Vítima do patrulhamento ideológico do movimento "politicamente correto" (pelo menos uma
mostra, de fotos sobre a vida dos
escravos na Casa Grande, foi retirada da Biblioteca do Congresso
por causa de pressões), Billington
não crê que o Brasil venha a sofrer
tanto com isso quanto os EUA.
Na sua opinião, o "politicamente
correto" resulta de uma fixação de
"subculturas intelectuais" com alguns "preconceitos metodológicos
e ideológicos" das décadas de 60 e
70, que ele não acredita tenham sido temas tão dominantes no Brasil
naqueles períodos.
Mesmo nos EUA, sua visão de
historiador é que, embora o fenômeno ainda venha a prosseguir
durante algum tempo, o país "é suficientemente grande e diversificado" para obter, a médio prazo,
uma espécie de equilíbrio.
Esses são exemplos de temas que,
na opinião de Billington, o projeto
Fronteiras poderia suscitar e a respeito dos quais poderá oferecer
apoio documental para discussões
nos países participantes. O objetivo é desenvolver todo o projeto no
universo digitalizado da Internet.
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