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"EM SUA DEFESA"
Romance adota linha "noir", mas é apenas novela de tribunal
EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO
Tantos livros e filmes
depois, é possível a um
escritor norte-americano
criar algo original tendo como pano de fundo um tribunal? A julgar pelo best-seller "Em Sua Defesa", que marca
a estréia de Stephen Horn, a
resposta é não.
Como seus contemporâneos Scott Turow e Philip
Margolin, Horn tece uma
trama fluida, característica
também cara ao texto. Inúmeras e às vezes desnecessárias, as reviravoltas assumem a tarefa de dar gancho
dramático à obra, que tem
forte teor imagético (que venha Hollywood).
Mas nem tudo é uniformizante. O traço que separa
"Em Sua Defesa" de outras
obras do gênero é a tinta gasta para desenvolver a estrutura psicológica dos personagens. Além disso, os diálogos tentam ser mais "noir"
que a média atual. Tiram do
sarcasmo a ironia, mas carecem das metáforas desconcertantes de um Dashiell
Hammett (1894-1961).
Essa química funciona de
maneira irretocável apenas
na composição do personagem Frank O'Connell, advogado idealista que trocou voluntariamente seus dias de
glória no escritório do sogro
para cuidar de bandidos comuns em portas de cadeia.
A chance da redenção entra em seu escritório junto
com as mãos macias ("exceto por um enorme relógio
que podia ser trocado por
um carro") de Ashley Bronson, assassina confessa de
um membro do governo dos
EUA. Termina aí o cheiro de
"Falcão Maltês" da coisa.
Ao acumular os papéis de
protagonista e narrador,
O'Connell saudavelmente
não sofre de autopiedade.
Revela suas fraquezas, em
introspecções ou bate-papos
com o terapeuta, e afasta de
si qualquer traço heróico.
Sobra um personagem verossímil, quase familiar.
Biografia
Louve-se o esforço de pesquisa do autor. Mesmo
quando a superficialidade
impera, o conhecimento de
causa faz as honras da casa.
Mas isso não é garantia de
um segundo romance com
nível igual ou superior a
"Em Sua Defesa".
Nascido no Bronx, em Nova York, ele acabou se formando engenheiro. Depois
de comandar um pelotão de
infantaria no Vietnã, assumiu o posto de promotor na
divisão de direitos civis do
Departamento da Justiça
dos Estados Unidos.
Terminada a temporada
do autor no órgão, ele passou um tempo nas cadeias,
representando clientes sem
condições de pagar por um
advogado, como o protagonista de "Em Sua Defesa".
Ali, entre supostos bandidos, ele diz ter aprendido
que a culpa não deve ser vista de forma peremptória,
preto no branco. Há algumas sombras de cinza.
E é justamente nelas que
Horn encontra e explora alguns elementos que, se desenvolvidos, podem dar ao
autor alguma sobrevida no
mundo das letras.
Em Sua Defesa
In Her Defense
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Autor: Stephen Horn
Tradutor: Domingos Demasi
Editora: Globo
Quanto: R$ 40 (504 págs.)
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