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LITERATURA
Editora norte-americana responsável pelo lançamento diz que não há previsão para "Hapworth 16, 1924"
J.D. Salinger inédito pode sair este ano
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Se for verdade, parem as rotativas. Tudo indica que vai ser lançado até o final do ano um livro inédito de J.D. Salinger, um dos
maiores escritores e certamente o
mais recluso da história dos EUA.
Com algum exagero de fã, o evento seria o equivalente literário à
prisão de Osama bin Laden.
Seria seu primeiro título desde
1963, quando o escritor nova-iorquino de 83 anos se recolheu à sua
casa em Cornish (Estado de New
Hampshire), onde vive até hoje
com a terceira mulher, uma ex-enfermeira 45 anos mais nova do
que ele. Desde então, nunca mais
falou publicamente nem se deixou fotografar ou gravar.
Nas últimas décadas, milhares
de histórias cercam a vida do autor de "O Apanhador no Campo
de Centeio", sua obra mais famosa, que completou 50 anos em
2001. Os mitos e lendas vão desde
o que dá conta de que ele bebe a
própria urina (o mais recorrente)
até o de que ele fez uma ponta não
creditada como um militar no filme "O Resgate do Soldado Ryan"
(o mais recente).
O problema é que os rumores
do novo livro são cada vez mais
recorrentes e dados como certo
até por sites insuspeitos como o
da livraria virtual Amazon. Estava
lá, com todas as letras: "Hapworth
16, 1924" tem previsão de lançamento para novembro deste ano,
pela editora Orchises Press.
A novela já foi publicada uma
vez, nunca em livro, mas na edição de 19 de junho de 1965, na revista "The New Yorker". Foi escrita como se fosse uma carta de Seymour Glass, menino precoce de
sete anos habitual na obra de J.D.
Salinger, para sua família.
Seria a conclusão da saga dos
Glass, que aparecem ainda em
"Franny e Zooey" (1961) e em
"Carpinteiros, Levantem Bem Alto a Cumeeira" (1963). Para quem
não se lembra, Seymour é o personagem que se suicida no fim do
conto "A Perfect Day for Bananafish", publicado na coletânea
"Nove Estórias" (1953).
Tudo faz sentido. Até a editora
que aparece como responsável
pelo livro novo, a Orchises, baseada em Alexandria (Estado de Virgínia) e comandada por Roger
Lathbury, um professor de inglês
da Universidade George Mason.
A escolha de uma empresa nanica
em vez dos milhões de dólares
que as gigantes do ramo pagariam
pelo título é puro Salinger.
Aí começam os problemas.
Quando viram a data na Amazon,
repetida por diversos sites, inclusive o da brasileira livraria Cultura, tanto a agente literária do escritor, Phyllis Westberg, quanto o
próprio Mason desmentiram tudo. Segundo os dois, não há previsão de lançamento.
Assim, na última semana, o site
da livraria virtual teve de tirar a
informação do ar. "A incerteza é
tanta que tivemos de fazer isso",
disse Bill Curry, da Amazon. Agora, há apenas o "ainda não publicado" no lugar da data.
Mesmo assim, encomendas
continuam sendo aceitas, embora
Curry não divulgue quantos
exemplares já foram pré-vendidos. O preço é US$ 22,25 (R$
86,55 na Cultura), e o livro está em
31.556º lugar entre todos os títulos
negociados pela rede.
Se o livro continua inédito, toda
a confusão e o adiamento em torno dele são reprise. "Hapworth
16, 1924" já foi prometido antes,
cinco anos atrás. Na época, a mesma Orchises confirmava que vinha Salinger novo por aí.
Foi quando entrou em cena
uma das críticas literárias do jornal "The New York Times", Michiko Kakutani, ganhadora do
Prêmio Pulitzer de 1996 justamente por uma série de reportagens sobre o autor americano.
Ela vasculhou os sebos de revistas da cidade e descobriu o exemplar da "New Yorker" que trazia a
novela. Então, sem esperar o lançamento do livro, publicou sua
resenha a partir do texto, em 20 de
fevereiro de 1997.
Intitulada "From Salinger, a
New Dash of Mystery" (De Salinger, uma Nova Onda de Mistério),
a crítica era pouco lisonjeira. Com
1.600 palavras, terminava dizendo
que o texto era "amargo, implausível e, triste dizer, completamente sem charme".
Na mesma semana em que saiu
a resenha de Kakutani, sem dizer
os motivos, a editora soltou nota
afirmando que a publicação de
"Hapworth" havia sido adiada,
dessa vez indefinidamente.
Desde então, a página do site da
Orchises dedicada ao livro traz a
seguinte mensagem, que continua valendo como resposta aos
recentes rumores, segundo Mason: "Como é de esperar em se
tratando de um título de Salinger,
há reviravoltas e mudanças. Pode
haver atrasos inesperados no processo de publicação".
E termina: "Salinger sempre se
recusou a tomar a via tradicional e
parece que ele está se mantendo
fiel aos seus princípios também
na publicação deste livro".
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