São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 2005

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ANÁLISE

"24 Horas" explora medo pós-11 de Setembro

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Durante a Guerra Fria, os inimigos estrangeiros nas produções americanas eram em geral soviéticos. Hoje são terroristas orientais. Mas há uma inversão interessante. Para além da oposição entre o bem e o mal, a referência melô salienta resquícios universais de fidelidade.
"24 Horas" é mais um seriado de sucesso na TV aberta americana da atualidade. Já em sua quarta temporada, o policial explora a insegurança pós-11 de Setembro. Beira a propaganda oficial. Mas, para além dos confrontos contínuos que mobilizam guerrilheiros de ambos os lados do conflito, há um apelo a resquícios de bom senso.
Exibido no Brasil pela Fox no horário nobre da segunda-feira, o programa apresenta um ritmo frenético dado em larga medida pelos movimentos rápidos de uma câmera nervosa.
Imagens tremidas produzidas por cinegrafistas que filmam com a câmera na mão possuem um significado especial na história do cinema. Elas carregam a marca dos cinemas novos, que expressaram na tela grande a agitação cultural dos anos 60.
Estimulada pela invenção de máquinas cada vez mais leves, a instabilidade da imagem se tornou convencional. Em "24 Horas", ela ajuda a transmitir o clima ininterrupto de perigo iminente que assola a vida de Jack e seus colegas da divisão antiterror.
A equipe trabalha em relação permanente com uma bem aparelhada base secreta e em freqüente contato direto com o presidente. A coordenação virtual de pequenas unidades mimetiza a tática minimalista do inimigo.
A edição acelerada de quadros irregulares acentua o tom agitado, aumentando ainda mais a impressão de ação.
De um lado e de outro, uma causa maior exige sacrifícios sobre-humanos. Ao técnico do serviço secreto se pede que trabalhe. É na referência extremada às relações mais viscerais que cada um dos lados encontra algum respiro.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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