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ANÁLISE
"24 Horas" explora medo pós-11 de Setembro
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Durante a Guerra Fria, os
inimigos estrangeiros nas
produções americanas eram em
geral soviéticos. Hoje são terroristas orientais. Mas há uma inversão interessante. Para além da
oposição entre o bem e o mal, a
referência melô salienta resquícios universais de fidelidade.
"24 Horas" é mais um seriado
de sucesso na TV aberta americana da atualidade. Já em sua quarta
temporada, o policial explora a
insegurança pós-11 de Setembro.
Beira a propaganda oficial. Mas,
para além dos confrontos contínuos que mobilizam guerrilheiros
de ambos os lados do conflito, há
um apelo a resquícios de bom
senso.
Exibido no Brasil pela Fox no
horário nobre da segunda-feira, o
programa apresenta um ritmo
frenético dado em larga medida
pelos movimentos rápidos de
uma câmera nervosa.
Imagens tremidas produzidas
por cinegrafistas que filmam com
a câmera na mão possuem um
significado especial na história do
cinema. Elas carregam a marca
dos cinemas novos, que expressaram na tela grande a agitação cultural dos anos 60.
Estimulada pela invenção de
máquinas cada vez mais leves, a
instabilidade da imagem se tornou convencional. Em "24 Horas", ela ajuda a transmitir o clima
ininterrupto de perigo iminente
que assola a vida de Jack e seus colegas da divisão antiterror.
A equipe trabalha em relação
permanente com uma bem aparelhada base secreta e em freqüente contato direto com o presidente. A coordenação virtual de
pequenas unidades mimetiza a
tática minimalista do inimigo.
A edição acelerada de quadros
irregulares acentua o tom agitado,
aumentando ainda mais a impressão de ação.
De um lado e de outro, uma
causa maior exige sacrifícios sobre-humanos. Ao técnico do serviço secreto se pede que trabalhe.
É na referência extremada às relações mais viscerais que cada um
dos lados encontra algum respiro.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
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