São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 2005

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Paraguaio, autor de "Eu, o Supremo" (1974), teve parada cardíaca em decorrência de complicações pós-cirúrgicas

Escritor Augusto Roa Bastos morre aos 87

DA REDAÇÃO

O escritor e poeta paraguaio Augusto Roa Bastos, um dos principais autores latino-americanos, morreu ontem à tarde, aos 87 anos, em um hospital de Assunção, segundo informou sua família. Roa Bastos morreu devido a um ataque cardíaco oriundo de complicações da cirurgia a que foi submetido após cair e bater a cabeça em sua casa, na última sexta.
"Seu coração era frágil", disse Carlos Alberto Roa, um de seus filhos, à imprensa. Roa Bastos já havia feito um tratamento cardíaco em Cuba, em 2003. O ditador cubano Fidel Castro visitou o escritor em sua casa, durante sua última viagem ao Paraguai.
Autor de livros como "Eu, o Supremo" (1974), que retrata a vida do ditador paraguaio Gaspar Rodríguez de Francia e foi considerado pela crítica uma das obras mais importantes da literatura latino-americana, Roa Bastos viveu exilado na Argentina e na França por mais de 40 anos, durante o regime do ditador paraguaio Alfredo Stroessner (1954-1989). Autorizado a visitar o país em três ocasiões durante seu exílio, o escritor foi definitivamente expulso em 1982 e só regressaria após a derrubada de Stroessner -que atualmente vive exilado em Brasília.
O ditador paraguaio proibiu a venda de "Eu, o Supremo" no país -para o público, o retrato que Roa Bastos fez de Rodríguez de Francia, que governou o Paraguai com mão-de-ferro após a independência do país, em 1811, era tacitamente o de Stroessner. O livro daria ao escritor o Prêmio Cervantes de Literatura, em 1989.
O exílio forçado marcou profundamente Roa Bastos. "Mesmo os cães sentem-se mal quando são expulsos de algum lugar. Imagine o que é isso para um homem", disse o autor em entrevista. Sua obra é intimamente ligada à sua terra natal. Nascido na capital Assunção, em 13 de junho de 1917, o escritor passou sua infância na vila rural indígena de Iturbe -retratada em seus livros como Itapé-, onde seu pai, de temperamento autoritário, comandava uma refinaria de açúcar.
O gosto pela literatura foi incentivado por sua mãe, que o fez ler a Bíblia e as obras de Shakespeare, além de tê-lo iniciado na arte da narração ao contar-lhe lendas paraguaias no idioma guarani.
Roa Bastos também foi marcado pela guerra entre Paraguai e Bolívia (1932-1935), pelo controle da zona desértica do Chaco, na qual participou como assistente de enfermagem, aos 15 anos. Ao fim do conflito, iniciou sua carreira no jornal paraguaio "El País", onde chegou a chefe de redação e correspondente em Londres, após a Segunda Guerra Mundial.
Paralelamente, ele começou a escrever poemas e publicou em 1941 sua primeira novela, "Fulgencio Miranda". O paraguaio era um leitor apaixonado por autores como Rilke, Cocteau e Faulkner.


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