|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
POLÊMICA
Décio Pignatari e Rogério Duprat acreditam que mudança do juri do 7º FIC, de 72, teve motivos comerciais
Jurados depostos discordam de Ribeiro
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na opinião de dois integrantes
do júri deposto do 7º FIC, de 1972,
a mudança do corpo de jurados
foi mesmo uma manobra para
que "Cabeça", de Walter Franco,
não ganhasse o festival.
O poeta Décio Pignatari explica:
"Mesmo quem não gostava muito
de música experimental começou
a ficar empolgado com "Cabeça".
Naturalmente, "Cabeça" iria para a
cabeça. Chegaria, ao menos, na final ou na semifinal".
De acordo com ele, a Globo já tinha preparado os prêmios para
Baden Powell e para "Fio Maravilha". "Eles queriam lançar Maria
Alcina (intérprete de "Fio'). A verdade foi essa. "Cabeça" ameaçava
esse esquema, então armou-se essa coisa da polícia." Para o concretista, a questão era ao mesmo
tempo política e comercial.
Segundo Pignatari, a Globo pretendia promover outro tipo de
música, "mais alienante".
""Cabeça" era muito combativa.
Faria a rebelião contra a música
mais ou menos bem-comportada", diz.
De acordo com ele, "a comunicação que chegou a nós foi que
um general telefonou, exigindo o
afastamento de Nara. Não refuto
que isso tenha ocorrido".
Procurado pela Folha, o maestro Duprat também continua afirmando que houve, sim, uma manobra realizada por parte da
emissora para que Walter Franco
não ganhasse o festival.
"O Solano tem uma outra idéia
sobre isso, mas, em todo caso, o
que nós sentimos foi evidentemente isso. Foi claro que era um
problema comercial. Comercialmente, "Cabeça" não dava samba,
né? Naqueles festivais internacionais, o que a Globo queria era enturmar os bolhas todos do planeta
com aquelas cantigas imbecis",
diz o maestro.
Duprat afirma que não estranha
o fato de a Globo ter achado absurdo que "Cabeça" fosse classificada. "Destituir o júri por conta
disso é que foi uma sacanagem."
O maestro diz ainda nunca ter
perguntado a razão pela qual o júri foi destituído.
Duprat recebeu a versão de Solano Ribeiro com reservas. "Ninguém imaginava que pudesse haver alguma coisa pessoal dos "milicos" contra a Nara Leão. Achamos que era um pouco de desculpa da Globo", diz. "Eu achei, na
ocasião, que a coisa era toda comercial mesmo. Não posso garantir, porque quem vai ter acesso
a quem deu a última palavra?
Quem é que deu a ordem? Talvez
o Solano saiba melhor do que eu.
Se ele recebeu uma ordem, ele deve saber de quem."
(CARLOS BOZZO JUNIOR)
Texto Anterior: Militares regeram festival de música da Globo em 72 Próximo Texto: Frase Índice
|