São Paulo, sábado, 27 de maio de 2000


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POLÊMICA
Décio Pignatari e Rogério Duprat acreditam que mudança do juri do 7º FIC, de 72, teve motivos comerciais
Jurados depostos discordam de Ribeiro

ESPECIAL PARA A FOLHA

Na opinião de dois integrantes do júri deposto do 7º FIC, de 1972, a mudança do corpo de jurados foi mesmo uma manobra para que "Cabeça", de Walter Franco, não ganhasse o festival.
O poeta Décio Pignatari explica: "Mesmo quem não gostava muito de música experimental começou a ficar empolgado com "Cabeça". Naturalmente, "Cabeça" iria para a cabeça. Chegaria, ao menos, na final ou na semifinal".
De acordo com ele, a Globo já tinha preparado os prêmios para Baden Powell e para "Fio Maravilha". "Eles queriam lançar Maria Alcina (intérprete de "Fio'). A verdade foi essa. "Cabeça" ameaçava esse esquema, então armou-se essa coisa da polícia." Para o concretista, a questão era ao mesmo tempo política e comercial.
Segundo Pignatari, a Globo pretendia promover outro tipo de música, "mais alienante".
""Cabeça" era muito combativa. Faria a rebelião contra a música mais ou menos bem-comportada", diz.
De acordo com ele, "a comunicação que chegou a nós foi que um general telefonou, exigindo o afastamento de Nara. Não refuto que isso tenha ocorrido".
Procurado pela Folha, o maestro Duprat também continua afirmando que houve, sim, uma manobra realizada por parte da emissora para que Walter Franco não ganhasse o festival.
"O Solano tem uma outra idéia sobre isso, mas, em todo caso, o que nós sentimos foi evidentemente isso. Foi claro que era um problema comercial. Comercialmente, "Cabeça" não dava samba, né? Naqueles festivais internacionais, o que a Globo queria era enturmar os bolhas todos do planeta com aquelas cantigas imbecis", diz o maestro.
Duprat afirma que não estranha o fato de a Globo ter achado absurdo que "Cabeça" fosse classificada. "Destituir o júri por conta disso é que foi uma sacanagem."
O maestro diz ainda nunca ter perguntado a razão pela qual o júri foi destituído.
Duprat recebeu a versão de Solano Ribeiro com reservas. "Ninguém imaginava que pudesse haver alguma coisa pessoal dos "milicos" contra a Nara Leão. Achamos que era um pouco de desculpa da Globo", diz. "Eu achei, na ocasião, que a coisa era toda comercial mesmo. Não posso garantir, porque quem vai ter acesso a quem deu a última palavra? Quem é que deu a ordem? Talvez o Solano saiba melhor do que eu. Se ele recebeu uma ordem, ele deve saber de quem."
(CARLOS BOZZO JUNIOR)


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