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POLÍTICA CULTURAL
Instituições vão se transformar em organizações sociais e assinar contrato com governo para receber verba
Associação de amigos gerenciará museus
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um certo pânico paira sobre as
cabeças dos dirigentes das associações de amigos de museus estaduais. Criadas para dinamizar e
conseguir mais recursos para as
mostras, as associações, por proposta da secretária de Estado da
Cultura, Claudia Costin, passarão
a gerenciar os espaços, sendo responsáveis até mesmo por contratar os funcionários dos museus a
que estão ligadas.
"Estou preocupado, pois as associações são constituídas por
pessoas que querem colaborar
voluntariamente e agora passam
a ter uma responsabilidade para a
qual não foram criadas", afirma o
advogado Fernando Albino, presidente da Associação Amigos do
Paço das Artes.
Segundo a proposta, as associações irão se transformar em organizações sociais (OS) e, após credenciadas pelo governo estadual,
irão assinar um contrato de gestão, pelo qual irão receber um valor mensal para administrar o
equipamento a que estão ligadas
com metas estabelecidas em comum acordo. Não só os museus
passarão por essa mudança, mas
todos os equipamentos culturais
do Estado, como salas de teatro e
até a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).
Essa foi a saída encontrada pela
secretaria para resolver um problema criado pelo ex-secretário
de Cultura Marcos Mendonça,
que, desde 1998, passou a contratar funcionários num regime chamado credenciamento, isto é, de
caráter temporário. Entretanto,
segundo o Ministério Público do
Trabalho, tal vínculo, ao se tornar
permanente, é irregular e, por isso, foi estabelecido um termo de
ajuste de conduta, com um prazo
de 18 meses, para a extinção dos
credenciamentos irregulares, que
expiraria no próximo mês.
Segundo Costin, "esse prazo foi
renegociado para setembro, devido às ações já tomadas, pois assumi com 3.100 credenciados e hoje
temos 1.713. Mas a emergência
com o ministério não pode fazer a
gente tomar medidas açodadas.
As organizações sociais estão sendo discutidas há quatro anos, e
nada tinha sido feito para sua implementação".
Por isso a secretária estabeleceu
um plano para implantar as OSs
de forma gradual. "Começamos a
discutir com as associações no segundo semestre do ano passado.
Já temos três organizações prontas para serem criadas, a do Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, a do Projeto Guri e a dos teatros. Minha estratégia é começar
por essas três, rodar um pouco o
filme e, a partir daí, partir para as
outras, negociando mais prazo
com o Ministério Público", diz.
Nesse momento, Costin discute
com as associações os pontos polêmicos, entre eles que o cargo de
diretor da instituição passará a ser
indicado pela própria OS, e não
mais pela secretária. "Acho que o
diretor de um museu deveria ser
indicado pela secretária de Cultura, pois ela não deve abrir mão da
política cultural", afirma Albino.
"Queremos amarrar melhor essa questão, mas é complicado
uma OS se responsabilizar por
uma gestão se ela não nomear o titular. Esse não é o melhor instrumento de política pública, e não
vejo problema se a gente for competente para fazer um bom contrato de gestão", defende Costin.
Outra preocupação dos dirigentes diz respeito ao repasse de verbas. "Não dá para crer que o Estado vá honrar compromissos. Se o
Estado não pagar, como fica a instituição?", questiona Ricardo Ohtake, diretor da Associação de
Amigos do MIS.
"Há riscos, mas vejo mais vantagens. No sistema atual, se eu
não repassar verba para uma instituição, ela tem de ficar quieta,
pois é subordinada a mim. No novo modelo, é independente e pode ir aos jornais, pois a OS tem
mais autonomia", afirma Costin.
Finalmente, a própria secretária
diz que haverá um aumento de
custos com essa proposta, já que
os salários a serem pagos pelas
OSs terão também encargos trabalhistas, o que pode até duplicar
o valor a ser repassado para as
instituições. "Por isso não vamos
começar tudo de uma vez, mas
vamos ter um enxugamento aqui
para absorver parte do aumento
do custo", diz Costin.
Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca, aponta o grande trunfo
do projeto: "Trata-se de uma participação maior da sociedade do
que a via tradicional: o voto".
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