São Paulo, quarta-feira, 27 de maio de 2009

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Morre Ianelli, mestre da cor

Artista paulistano, morto ontem aos 86, foi um dos maiores nomes da pintura brasileira, conhecido pela coloração e a luminosidade marcante de suas obras

Ana Ottoni/Folha imagem
Arcangelo Ianelli em retrato de 2002 em seu ateliê, na capital paulista

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu ontem, aos 86, o artista plástico Arcangelo Ianelli, vítima de falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado há três meses no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Seu corpo seria velado desde a tarde de ontem na Pinacoteca do Estado. O enterro está marcado para hoje, às 11h, no cemitério Gethsêmani, no Morumbi.
Um dos mais importantes nomes da pintura brasileira, o paulistano filho de italianos teve uma trajetória consistente. Foi da figuração no início de sua carreira, nos anos 50, à abstração geométrica dos anos 60.
Depois, manteve o cânone construtivo em telas de cor e luminosidade exacerbadas, na última fase de sua obra, que despontou na década de 1990.
"Quando ele abstrai a forma, e a luz e a cor têm atuação fundamental, chega a um requinte extraordinário", avalia Emanoel Araújo, 68, ex-diretor da Pinacoteca, para a qual adquiriu uma tela do artista, e que hoje está à frente do Museu Afro Brasil. "Ianelli é um temperamento sutil, silencioso, quase uma música de câmara."
"Ele possuía um espírito naturalmente clássico, que procurava a beleza contida na harmonia, no equilíbrio, no acerto e não na rebeldia", afirma o crítico Olívio Tavares de Araújo, 56, que fez três documentários sobre o artista. "Ianelli vai ficar como o pintor brasileiro que melhor conseguiu estabelecer uma ponte entre o sensível e a racionalidade, um mestre consumado em matéria de cor."
Depois de ter aulas com Lothar Charoux, Hermelindo Fiaminghi e Maria Leontina, nos anos 40, juntou-se a outros nomes de sua geração, como Manabu Mabe e Wega Nery, no grupo Guanabara, que retratou paisagens paulistanas dando grande destaque para a cor.
Em 1964, ganhou uma viagem a Paris do Salão de Arte Moderna do Rio e instalou um ateliê na capital francesa. Quase dez anos depois, venceu o prêmio do Panorama de Arte Atual Brasileira, no Museu de Arte Moderna de SP. Ao todo, participou de seis edições da Bienal de São Paulo.
Para Tadeu Chiarelli, crítico e professor da USP, Ianelli foi o "grande herdeiro da pintura paulista", que seguiu a tradição ao mesmo tempo em que dialogava com novos experimentos. "Ele superou os limites do ambiente paulistano", resume Chiarelli, 52. "Sua obra transcendeu essas circunstâncias."
Ianelli suscitou, aliás, reações favoráveis quase unânimes da crítica. Não que sua obra fosse irretocável, mas muitos julgam que ressalvas foram silenciadas ao longo do tempo pela consagração dele como um mestre do abstrato.
"Ele foi um grande colorista, um mestre da pintura e uma figura muito especial", lembra Marcelo Araujo, 52, diretor da Pinacoteca, que fez em 2002 uma das últimas retrospectivas do artista. "É uma perda duplamente sentida, pela obra dele e pela pessoa que ele foi."
"É a perda de um artista que já vinha sofrendo, de um grande companheiro", diz Emanoel Araújo. "Teve uma trajetória absolutamente coerente. É uma pena que Ianelli se vá."


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