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Análise/artes plásticas
Ianelli foi um típico artista moderno
Paulistano começou figurativo, mas a representação do real foi perdendo importância, dando lugar a formas abstratas
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
É impossível observar a
obra de Arcangelo Ianelli e não se lembrar
das pinturas de Mark Rothko
(1903-1970), russo que emigrou para os Estados Unidos
em 1913 e foi um dos protagonistas do expressionismo abstrato, corrente que marcou a
ascensão norte-americana no
circuito das artes plásticas no
Pós-Guerra.
Ambos têm uma questão
fundamental na experiência da
cor. "Pinto quadros grandes
porque desejo criar um estado
de intimidade. Um quadro
grande é uma operação imediata: leva-nos para dentro dele",
dizia Rothko.
A questão da dimensão hiperbólica também era importante nas pinturas de Ianelli,
especialmente a partir dos anos
60. "Eu não persigo a beleza; se
ela ocorre, é involuntária. Busco fazer um trabalho profundo
ao depurar a cor", disse Ianelli à
Folha em entrevista em 2002.
A história de Ianelli é a típica
história de um artista moderno. Começou figurativo, nos
anos 1940, pintando a partir de
modelos nus, mas a representação do real foi cada vez mais
perdendo importância, fazendo com que cores e formas abstratas passassem a dominar a
cena, até expulsar da tela qualquer proximidade com objetos
existentes no mundo.
No abstracionismo, Ianelli
alternou-se entre o informal,
nos anos 60 -com telas que
mostravam densidade matérica e cores escuras-, e o geométrico, nos anos 70 -com retângulos e quadrados, que se apresentavam como planos superpostos e interpenetrados.
Um dos críticos que mais valorizou seu trabalho foi Mário
Pedrosa (1900-1981) -considerado seu padrinho pelo artista e que via sua obra como um
"estado contemplativo à beira
de perturbar-se, em face das
contradições da vida", como escreveu no catálogo de uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio, em 1961.
Fusão com geométrico
Nos anos 90 e 2000, Ianelli
realiza uma espécie de fusão do
informal com o geométrico,
com retângulos que já não possuem mais limites claros, fronteiras que se interpenetram.
Apesar de a pintura ser o meio
que o tornou mais conhecido, o
artista também produziu esculturas e gravuras.
Em mais de 60 anos de carreira, seu trabalho ocorria basicamente no ateliê, ao contrário
dos procedimentos contemporâneos, mas numa lógica que
tem muito a ver com a produção atual. "O que move o artista
é a insatisfação, o dia em que eu
ficar plenamente satisfeito
com minha obra, não tenho
mais razão para pintar", disse
Ianelli em 2002, dias antes de
inaugurar sua retrospectiva na
Pinacoteca do Estado.
Na época, aliás, ele não pôde
comparecer à abertura da mostra por ter sofrido um derrame
cerebral, na antevéspera do
evento.
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