São Paulo, quarta-feira, 27 de maio de 2009

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Análise/artes plásticas

Ianelli foi um típico artista moderno

Paulistano começou figurativo, mas a representação do real foi perdendo importância, dando lugar a formas abstratas

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

É impossível observar a obra de Arcangelo Ianelli e não se lembrar das pinturas de Mark Rothko (1903-1970), russo que emigrou para os Estados Unidos em 1913 e foi um dos protagonistas do expressionismo abstrato, corrente que marcou a ascensão norte-americana no circuito das artes plásticas no Pós-Guerra.
Ambos têm uma questão fundamental na experiência da cor. "Pinto quadros grandes porque desejo criar um estado de intimidade. Um quadro grande é uma operação imediata: leva-nos para dentro dele", dizia Rothko.
A questão da dimensão hiperbólica também era importante nas pinturas de Ianelli, especialmente a partir dos anos 60. "Eu não persigo a beleza; se ela ocorre, é involuntária. Busco fazer um trabalho profundo ao depurar a cor", disse Ianelli à Folha em entrevista em 2002.
A história de Ianelli é a típica história de um artista moderno. Começou figurativo, nos anos 1940, pintando a partir de modelos nus, mas a representação do real foi cada vez mais perdendo importância, fazendo com que cores e formas abstratas passassem a dominar a cena, até expulsar da tela qualquer proximidade com objetos existentes no mundo.
No abstracionismo, Ianelli alternou-se entre o informal, nos anos 60 -com telas que mostravam densidade matérica e cores escuras-, e o geométrico, nos anos 70 -com retângulos e quadrados, que se apresentavam como planos superpostos e interpenetrados.
Um dos críticos que mais valorizou seu trabalho foi Mário Pedrosa (1900-1981) -considerado seu padrinho pelo artista e que via sua obra como um "estado contemplativo à beira de perturbar-se, em face das contradições da vida", como escreveu no catálogo de uma exposição no Museu de Arte Moderna do Rio, em 1961.

Fusão com geométrico
Nos anos 90 e 2000, Ianelli realiza uma espécie de fusão do informal com o geométrico, com retângulos que já não possuem mais limites claros, fronteiras que se interpenetram. Apesar de a pintura ser o meio que o tornou mais conhecido, o artista também produziu esculturas e gravuras.
Em mais de 60 anos de carreira, seu trabalho ocorria basicamente no ateliê, ao contrário dos procedimentos contemporâneos, mas numa lógica que tem muito a ver com a produção atual. "O que move o artista é a insatisfação, o dia em que eu ficar plenamente satisfeito com minha obra, não tenho mais razão para pintar", disse Ianelli em 2002, dias antes de inaugurar sua retrospectiva na Pinacoteca do Estado.
Na época, aliás, ele não pôde comparecer à abertura da mostra por ter sofrido um derrame cerebral, na antevéspera do evento.


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