São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Artista brasileiro radicado nos EUA tem exposições em SP

Vik Muniz caminha sobre o fio da navalha em mostras

FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

Vik Muniz ocupa posição singular. Brasileiro residindo em Nova York, tematiza a história da arte globalizada por meio da fotografia. A carreira de Muniz consolidou-se com currículo internacional de peso. Em 2000, participou da Bienal do Museu Whitney, dedicada à produção norte-americana.
As fotos de Muniz evidenciam a mão de um desenhista. A matéria-prima barata é ordenada de modo a formar silhuetas perfeitamente identificáveis pelo traço delicado sobre superfícies monocromáticas, como em "Monstro" (2000).
O poder da fotografia ocupa o centro do debate na obra do artista. A imagem registra obras efêmeras, criadas cuidadosamente com materiais inadequados para a eternização artística: terra, poeira, arame.
A técnica mecânica mostra objetos inexistentes, na medida em que faz visíveis elementos cuja escala parece ficticiamente próxima do público. O modelo jamais se daria a conhecer diretamente com a nitidez da ampliação. O engano fotográfico é assim revestido com o prazer estético da surpresa.
As figuras do artista ironizam grandes valores da intelectualidade bem pensante, sobretudo a nova-iorquina. Como numa sátira de Woody Allen, vemos um Pollock respingando genialidade açucarada ("Action Photo 1", 1997) e um Freud de chocolate ("Sigmund", 1997).
A inovação de Vik Muniz corre o risco de toda arte circulante em escala global. As sínteses originais do artista tornaram-se modulares ao longo dos últimos anos, como se pode acompanhar no período coberto pela retrospectiva do MAM (1988-2000) e pela mostra na Camargo Vilaça (2001).
Contudo Muniz pode estar apenas cumprindo a trajetória de um artista rigoroso. A troca de estilo é por vezes mero artifício para esconder a superficialidade de pesquisa. O amadurecimento da obra exige a exploração de problemas relevantes. Vik Muniz está diante de um dilema. Os caminhos são excludentes: um leva à adaptação às pressões internacionais, outro, à renovação. A poucos artistas é dada a oportunidade real desse enfrentamento.


Pictures of Air e Pictures of Color
    
Onde: Galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, Pinheiros, tel. 0/xx/11/ 3032-7066)
Quando: segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h. Até 28 de julho
Quanto: entrada franca




Ver Para Crer
    
Onde: MAM - Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nš, portão 3, parque Ibirapuera, tel. 0/xx/11/5549-9688).
Quando: terça, quarta e sexta, das 12h às 18h; quinta, das 12h às 22h; sábado e domingo, das 10h às 18h. Abertura amanhã. Até 12 de agosto
Quanto: R$ 5 (quinta, após 17h, e terça, entrada franca)




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