|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DOCUMENTÁRIO
Nouvelle vague exibe suas várias faces
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
"O sucesso inicial da nouvelle
vague se deveu a um mal-entendido. O fracasso é a sua verdade", declara um ainda jovem Jacques Rivette no documentário "A
Nouvelle Vague por Ela Mesma",
atração da TV Cultura.
Mais uma pérola da série "Le Cinéma de Notre Temps", uma preciosa iniciativa do crítico André
Labarthe e da viúva do grão-mestre da nouvelle vague André Bazin, Janine, o documentário foi filmado em março de 1964, momento em que a nova vaga do cinema francês começava a refluir
sob o peso de sucessivos fracassos
de público.
Das centenas de jovens cineastas que haviam se lançado na onda do movimento, restaram, poucos anos depois, apenas dez para
contar a história. Estes começam,
em seu relato, lembrando o breve
período em que, havendo certa
sincronia entre uma nova idéia do
cinema e o desejo de uma geração
de se ver devidamente retratada
nas telas, os primeiros filmes da
geração, realizados na marra, serviram de espelho para o "mal da
juventude" francesa do pós-guerra, para aquela nouvelle vague das
revistas, reconhecida, antes de tudo, como um fenômeno sociológico. Nascia então, dessa feliz e
temporária coincidência, uma
nova mitologia dos tempos modernos.
Bomba que estourou em território inimigo, o Festival de Cannes (1959), berço da "tradição de
qualidade" do cinema francês,
contra a qual se insurgiam os novos diretores, a nouvelle vague do
cinema, forjada na Cinemateca do
mestre Henri Langlois (com justiça, o primeiro a falar no filme), era
um fenômeno de ruptura que se
dissociaria, cedo ou tarde, do
grande público e daqueles produtores para os quais representou,
de início, um lucrativo negócio de
risco.
Era também um fenômeno até
certo ponto sincrético em seu cineclubismo de base, como nos faz
lembrar o depoimento dos cineastas no documentário: há Jacques Demy e o lado neohollywoodiano da nouvelle vague, Rivette e
o legado rosselliniano, Agnès
Varda e o lado nouveau roman,
Jacques Rozier e a leveza e espontaneidade televisivas, Georges
Franju e a tendência à pré-elaboração intelectual, Claude Chabrol
e o arrivismo pragmático, Godard, sua índole polifônica e desconstrutiva, sua verve lúdico-cinefílica, e Truffaut com uma história de vida que encarna, como
poucas, os desígnios de toda uma
geração que, tendo-se apartado
dos pais, conheceu o mundo e a
vida a partir do cinema.
A Nouvelle Vague por Ela Mesma
Quando: hoje, às 23h30, na TV Cultura.
Texto Anterior: Música: Gravadoras processam consumidores Próximo Texto: Erika Palomino Índice
|