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"A tropicália machucou a MPB", diz Airto Moreira
DA REPORTAGEM LOCAL
Parceiro inseparável da música
de Flora Purim desde o início dos
anos 70, Airto Moreira descarta
qualquer possibilidade de retomada do mítico Quarteto Novo,
que integrou entre 66 e 67.
O grupo, acompanhante de Geraldo Vandré, era formado por
ele, Hermeto Pascoal, Théo de
Barros e Heraldo do Monte.
Acompanhou "Disparada", de
Vandré e Théo, vitoriosa no festival de MPB da Record de 66, em
interpretação de Jair Rodrigues.
"Já tentaram nos reunir, inclusive com muito dinheiro, mas não
conseguiram. Um queria US$ 40
mil, outro só estava a fim de tocar
junto de novo", lembra.
Ele diz que, por causa da "realidade de cada um", não mantém
mais contato com os colegas. "Há
cinco anos encontrei Vandré, que
estava animado com um projeto
sensacional que tinha na cabeça.
Não aconteceu."
Após o sucesso de "Disparada",
o Quarteto Novo chegou a ser
convidado pelos tropicalistas a
acompanhá-los, inclusive em
"Domingo no Parque" (67), de
Gilberto Gil. A exigência de que
passassem a ser exclusivos do
grupo baiano inviabilizou a parceria -mas não foi só isso.
"Não íamos parar com Vandré e
Edu Lobo, mas também não podíamos atacar de guitarras gritando no palco. Eu tinha conhecimento íntimo de que aquele movimento ia de alguma forma machucar a MPB, como machucou."
Flora Purim completa: "A tropicália foi espetacular, virou a mesa.
Mas não era o que queríamos fazer. Saímos do país não por causa
da tropicália, mas do regime militar. Embora fossem contrários, a
tropicália e o regime têm coisas
em comum".
Preso nos 60 a conceitos de nacionalismo musical, ironicamente
Moreira partiu daqui para acompanhar ícones do jazz como Miles
Davis e atuar em trilhas de Hollywood. "É incrível, é como se eu estivesse dentro de um filme, como
se eu não fosse eu mesmo."
Lembrando que o casal não perdeu os vínculos com o Brasil e trabalhou em Pernambuco com a
Banda de Pífanos de Caruaru e
Mestre Salustiano, Purim elogia:
"Adoro Recife, se tivesse que morar no Brasil à força iria para lá".
"Eu não vou forçar nada",
emenda Moreira. E esclarecem,
sorrindo, que costumam evitar
entrevistas juntos, para driblar
discordâncias.
(PAS)
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