UOL


São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"A tropicália machucou a MPB", diz Airto Moreira

DA REPORTAGEM LOCAL

Parceiro inseparável da música de Flora Purim desde o início dos anos 70, Airto Moreira descarta qualquer possibilidade de retomada do mítico Quarteto Novo, que integrou entre 66 e 67.
O grupo, acompanhante de Geraldo Vandré, era formado por ele, Hermeto Pascoal, Théo de Barros e Heraldo do Monte. Acompanhou "Disparada", de Vandré e Théo, vitoriosa no festival de MPB da Record de 66, em interpretação de Jair Rodrigues.
"Já tentaram nos reunir, inclusive com muito dinheiro, mas não conseguiram. Um queria US$ 40 mil, outro só estava a fim de tocar junto de novo", lembra.
Ele diz que, por causa da "realidade de cada um", não mantém mais contato com os colegas. "Há cinco anos encontrei Vandré, que estava animado com um projeto sensacional que tinha na cabeça. Não aconteceu."
Após o sucesso de "Disparada", o Quarteto Novo chegou a ser convidado pelos tropicalistas a acompanhá-los, inclusive em "Domingo no Parque" (67), de Gilberto Gil. A exigência de que passassem a ser exclusivos do grupo baiano inviabilizou a parceria -mas não foi só isso.
"Não íamos parar com Vandré e Edu Lobo, mas também não podíamos atacar de guitarras gritando no palco. Eu tinha conhecimento íntimo de que aquele movimento ia de alguma forma machucar a MPB, como machucou."
Flora Purim completa: "A tropicália foi espetacular, virou a mesa. Mas não era o que queríamos fazer. Saímos do país não por causa da tropicália, mas do regime militar. Embora fossem contrários, a tropicália e o regime têm coisas em comum".
Preso nos 60 a conceitos de nacionalismo musical, ironicamente Moreira partiu daqui para acompanhar ícones do jazz como Miles Davis e atuar em trilhas de Hollywood. "É incrível, é como se eu estivesse dentro de um filme, como se eu não fosse eu mesmo."
Lembrando que o casal não perdeu os vínculos com o Brasil e trabalhou em Pernambuco com a Banda de Pífanos de Caruaru e Mestre Salustiano, Purim elogia: "Adoro Recife, se tivesse que morar no Brasil à força iria para lá".
"Eu não vou forçar nada", emenda Moreira. E esclarecem, sorrindo, que costumam evitar entrevistas juntos, para driblar discordâncias. (PAS)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Romeu & Julieta
(sem veneno)

Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.