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CINEMA/ESTRÉIA
"HULK"
Neoconservadorismo da Era Bush contamina também produção de Ang Lee
Quando o adorável monstro Shrek perdeu seu humor
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
O problema de "Hulk"
("The Hulk"), novo filme de
Ang Lee baseado na HQ homônima que estréia hoje no Brasil, é o
próprio Hulk. Nas mãos da computação gráfica, o gigante irado e
indomável criado nos anos 60 por
Stan Lee (nenhum parentesco
com Ang) virou pouco mais que
um Shrek, o adorável monstrengo
de animação. Só que sem humor.
É um grande problema, já que o
personagem não só batiza a obra
como é sua razão de ser. Daí o calcanhar-de-aquiles de Ang Lee. O
dedicado taiwanês cuidou de todos os detalhes que estavam sob
sua alçada, da direção impecável
de atores aos bem-planejados
movimentos de câmara, que a todo o momento fazem lembrar o
melhor dos quadrinhos.
Mas não pôde dirigir o bichão
-isso ficou a cargo de Dennis
Muren. E, se este californiano de
57 anos entende muito de efeitos
visuais, como prova seu impressionante currículo (comandou esta área em "Guerra nas Estrelas" 1
e 2, "A.I.", "Parque dos Dinossauros", "O Exterminador do Futuro", "E.T.", entre outros), pouco
sabe de atuação.
O pior é que Ang Lee é um dos
diretores mais interessantes em
atividade. Tem seu lugar marcado
na história do cinema por ser o
autor do filme estrangeiro mais
visto nos EUA até hoje, "O Tigre e
o Dragão", que, mesmo falado em
mandarim, arrancou US$ 130 milhões das bilheterias locais.
Versátil, dirigiu ainda o importante "Tempestade de Gelo", um
registro ácido, mas fiel da perda
da inocência da classe média norte-americana nos anos 70 pós-Nixon, a adaptação "Razão e Sensibilidade", baseada no livro de Jane Austen, e o regional "Comer,
Beber, Viver".
Ou seja, tinha talento suficiente
para fazer de "Hulk" o que seu
equivalente em quadrinhos conseguiu: ser uma atualização para
jovens do arquetípico romance
"O Estranho Caso de Dr. Jekyll e
Mr. Hyde" (1886), de Robert
Louis Stevenson, no qual um sujeito perde o controle e se transforma no monstro inominável
que traz escondido dentro de si.
No caso de "Hulk", esse sujeito é
o cientista Bruce Banner (Eric Bana, regular), submetido a experimentos genéticos pelo pai (Nick
Nolte, ótimo) e que, depois de um
acidente num laboratório com
raios-gama, se transmuta sempre
que contrariado.
Há um outro senão que empana
o filme. Mesmo sob o risco de parecer o Leonel Brizola da crítica
cinematográfica, é preciso voltar
ao tema, não das "perdas internacionais", como faz o político gaúcho a cada discurso nos últimos
40 anos, mas do neoconservadorismo da Era Bush contaminando
as artes, como venho fazendo há
quatro críticas. Também este
"Hulk" faz loa às Forças Armadas
dos EUA e seus equipamentos e
termina (não vou contar) da maneira mais arrogante possível para nós latino-americanos.
Hulk
The Hulk
Produção: EUA, 2003
Direção: Ang Lee
Com: Eric Bana, Jennifer Connelly, Nick
Nolte
Quando: a partir de hoje, nos cines ABC
Plaza Shopping, Gemini e circuito
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