São Paulo, sábado, 27 de junho de 1998

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Remontagem "descobre" uma outra obra

da Sucursal do Rio

Com a remontagem de "O Ébrio, um "novo" filme foi descoberto -com menos erros de continuidade e de direção, fatos que, durante anos, foram atribuídos à inexperiência da diretora Gilda de Abreu.
"A verdade é que, durante todos esses anos, Gilda levou a culpa por um "crime' que não era seu", diz o pesquisador Hernani Heffner.
"A versão mais completa mostra que não havia tanta incompetência na realização do filme quanto se imaginava", completa.
Para mostrar que o filme era mais bem resolvido dramaticamente do que se imaginava, o pesquisador cita uma sequência inédita descoberta nos arquivos da Cinédia. Nela, o personagem Gilberto (Vicente Celestino) pede em casamento a enfermeira Marieta (Alice Archambeau).
Há, a seguir, uma sequência de cenas em que são feitas trocas de presentes e cartas. Na versão que chegou aos cinemas, eles aparecem casados logo depois de se conhecerem no hospital.
"A figura de Gilda como diretora cresce com a remontagem. Seu papel na história da cinematografia brasileira precisa ser reavaliado", afirma o pesquisador.
Gilda de Abreu foi uma das primeiras diretoras de cinema no Brasil. Além de "O Ébrio", dirigiu "Pinguinho de Gente" e "Coração de Mãe".
Filha da cantora lírica Nícia Silva, nasceu em Paris, em 1904, e teve toda a sua formação voltada para o estudo das artes e do canto.
Em 1936, já no Brasil, foi escalada por Adhemar Gonzaga, mentor da Cinédia, para estrelar o filme "Bonequinha de Seda". A partir daí, interessou-se pela direção.
Em 1945, Gonzaga lhe propôs que dirigisse a versão cinematográfica de "O Ébrio", peça que ela escrevera e que, em 1942, lançara ao estrelato o cantor Vicente Celestino, com quem era casada.
Gilda morreu em 1979. De acordo com Heffner, jamais se queixou das críticas feitas a seu trabalho como diretora de "O Ébrio".
"Na verdade, ela adorava o fato de seu filme ter sido um estrondoso sucesso popular. Ela não via nenhum problema com a versão exibida nem com as críticas porque, no fim das contas, ela tinha aceito a pressão e feito os cortes", afirma o pesquisador.



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