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LIVRO - LANÇAMENTOS
"Cores Primárias" mostra política como ela é
MARIANE MORISAWA
da Redação
"Diversas
pessoas conhecidas -sobretudo jornalistas- fazem breves aparições
nestas páginas,
mas trata-se de
uma obra de ficção e a ela se aplicam as ressalvas de praxe. Nenhuma das outras personagens é real.
Nenhum dos fatos aqui narrados
jamais aconteceu", diz a nota do
autor do livro "Cores Primárias".
É, mas não é bem assim. O livro,
relançado agora pela Companhia
das Letras para aproveitar o filme
"Segredos do Poder", que se baseia em "Cores Primárias", é claramente inspirado na campanha
de Bill Clinton à Presidência dos
Estados Unidos, em 1992.
Lançado em janeiro de 1996, sucesso imediato de vendas, o livro
causou alvoroço. Primeiro, pelas
inúmeras semelhanças que apresentava com fatos e pessoas. Depois, porque seu autor era desconhecido, Anônimo. As buscas acabaram revelando que ele era Joe
Klein, da revista "Newsweek".
As comparações com a realidade
são inevitáveis, mesmo para o brasileiro que não acompanhou de
perto a campanha. O candidato,
Jack Stanton, é um governador de
um Estado do sul do país, mulherengo, mas carismático, casado
com uma advogada competente e
durona -Susan Stanton.
Há também semelhanças entre
Richard Jemmons (no livro) e James Carville, Orlando Ozio e Mario Cuomo, Gennifer Flowers e
Cashmere McLeod.
No filme, o diretor Mike Nichols
deu cara e gestos aos personagens
para tirar qualquer dúvida de
quem as tinha. John Travolta e
Emma Thompson "são" Bill e
Hillary Clinton.
Travolta faz, de forma debochada e caricata, um Jack/Bill com os
gestos -como o da foto ao lado-, a voz rouca e os olhos sempre prestes a derrubar uma lágrima característicos do presidente.
Thompson encarna com perfeição a durona Susan/Hillary, mais
disposta a jogar sujo com os adversários, traída inúmeras vezes,
mas sempre ali, ao lado do marido, numa relação de amor e ódio.
No livro, é muito mais difícil para o leitor não familiarizado com
as personalidades retratadas identificá-las. Mas isso em nada tira o
sabor das histórias.
Afinal, o romance tem amor e
traição, ação, humor. O candidato
tem que se tornar conhecido, superar preconceitos, lidar com denúncias -verdadeiras- de casos
extraconjugais e de ajuda superior
para se livrar da cadeia.
E, contada a história sob o ponto
de vista do assessor negro do candidato, Henry Burton, que tem
dúvidas sobre se venera ou odeia o
casal, o leitor é conduzido por um
universo de personagens humanos. Ou seja, não há bonzinhos e
malvados, mas gente que erra.
Mesmo que trate de políticos
-que em geral têm pouca simpatia da sociedade-, o livro não se
deixa levar por maniqueísmos.
Isso não quer dizer que absolva
os maus políticos apenas porque
são humanos. Mas separam bons e
maus em outro nível. Há aqueles
que querem fazer alguma coisa pela sociedade e outros que não.
E onde entra Bill Clinton na história? Bem, ele é da turma que tem
casos extraconjugais, fumou, mas
não tragou, escapou da Guerra do
Vietnã, mas quer fazer algo pelo
povo. Ou seja, em "Cores Primárias", ele é bom. Mas imperfeito.
Livro: Cores Primárias
Autor: Anônimo
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 29,50 (429 págs.)
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