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Objetividade tira força de "Meia-Noite'
CECÍLIA SAYAD
da Redação
"Meia-Noite
no Jardim do
Bem e do Mal"
é o resultado da
fascinação que
Savannah
(Geórgia, EUA)
exerceu sobre o
jornalista John Berendt, que lá viveu por vários anos.
Fascinação tal que ele achou que
o formato reportagem não era suficiente para comportar tudo o
que teria a dizer sobre o excêntrico
local e seus habitantes. Decidiu,
então, transformar seu relato num
romance.
Para tanto, como escreve em nota no final da edição brasileira,
usou "pseudônimos para resguardar a privacidade" de alguns
personagens e tomou "certas liberdades narrativas".
O romance de Berendt só se concentra na trama principal -o assassinato do jovem Danny Hansford pelo antiquário Jim Williams
e o julgamento deste último- em
sua segunda parte.
Antes de entrar na trama desse
crime que envolve "violência" e
"homossexualismo", como se lê
na orelha do livro, o romance se
compõe de uma série de crônicas
sobre os diversos personagens que
habitam Savannah.
Uma drag queen que toma hormônios para perder a masculinidade, um homem que passeia a
coleira de um cachorro que já
morreu, um inventor detentor de
um veneno que ameaça colocar no
reservatório de água da cidade.
Mas o preferido de Berendt parece ser mesmo Jim Williams, um
novo rico sobre o qual são contadas muitas lendas e que desperta
admiração e inveja na cidade por
sua propriedade, a Casa Mercer
(que pertencera ao bisavô do compositor Johnny Mercer), e suas
festas de Natal, principal evento
social de Savannah.
Williams vê no narrador um
confidente, contando a ele inclusive detalhes do crime que comete
"em legítima defesa".
E é o antiquário o representante
do que Savannah tem de mágico
-seu isolamento, mantendo tradições incompreensíveis aos forasteiros, como o recurso a feitiçarias- e de decadente -o desmascaramento do personagem está,
no romance, próximo da descrição das dificuldades financeiras
que a cidade enfrenta.
Berendt constrói um mito com
olhar crítico, mas o que seria condenável do ponto de vista moral
-como macumba para prejudicar os inimigos- só serve para
tornar ainda mais fascinante, a seu
ver, essa cidade tão peculiar.
No entanto, apesar da curiosidade que Savannah exerce sobre Berendt, o escritor, talvez por ser jornalista e manter certo distanciamento com relação ao que relata,
não parece se envolver com os
acontecimentos a ponto de poder
dar a seu romance a atmosfera que
eles propiciariam.
A história de um crime que envolve, como foi citado acima, violência e paixão, é então narrada
como uma mera sucessão de fatos
-como se os julgamentos fossem
acompanhados por meio de notícias publicadas num jornal.
Não que falte talento narrativo a
Berendt -pelo contrário, ele consegue o mérito de descrever três
julgamentos, sendo que eles diferem entre si apenas em pequenos
detalhes, sem deixar que percam o
interesse.
Mas o romance fica devendo no
quesito magia, provavelmente por
excesso de objetividade. O distanciamento do autor faz com que a
estranheza dos personagens e os
eventos ligados ao crime cheguem
ao leitor sem a aura de mistério
que sugerem.
A edição brasileira, com pérolas
como "uma moto barulhentamente parada" e descuidos como
"o homem a arrastou-a", só contribui para esse distanciamento,
ao chamar a atenção e desviar o
olhar de quem lê -como um ruído que interrompe a fluência da
história.
Livro: Meia-Noite no Jardim do Bem e do
Mal
Autor: John Berendt
Lançamento: Objetiva
Quanto: R$ 29,50 (412 págs.)
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