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CRÍTICA
Energia cinética aplicada à tristeza
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MONTREUX
Qualquer um que já tenha
colocado um disco de afro-beat no seu 3 em 1 não estranhará
"Shoki, Shoki". A identificação
vem da guitarra funk marcando
ritmo, baixo à frente, e a seção de
metais, pontuando cada verso.
Solos de saxofone aparecem a todo momento, até por ser Femi antes instrumentista que cantor.
Femi não explora o que não
tem -uma voz hábil. Mas faz uso
de um vigor que algum crítico já
chamou de "muscular", talvez
impressionado pelo close de seu
torso nu na imagem da capa. Seus
vocais, portanto, não competem
com os instrumentos. E os demais
-femininos- aparecem como
eficaz complemento e frisam a
"mensagem". Não tivesse tal
mensagem a passar, Femi produziria, aliás, grandes discos instrumentais. Parece fazer um cruzamento de Otis Redding e Manu
Dibango que resulta em polirritmia, ainda que por vezes com metais polidos demais.
Femi não se converteu à eletrônica. O que se ouve é pura energia
cinética aplicada à tristeza. Um
paradoxo, mesmo para ouvintes
sul-americanos. Sua música é um
lamento. Lá está ele repetindo: "I
sorry/Sorry for Africa" no meio
de um turbilhão de não deixar defunto dormir.
Ao contrário do que se faz no
Brasil, Femi não se apóia em percussão. Ela está lá, mas uniforme,
cozinhando para o delírio dos sopros. Quem for ao Free Jazz verá
um show que emula o disco.
Quem o viu em Montreux não pode se queixar. Femi Kuti em disco
ou "live" faz pensar no antigo slogan da Sears.
(PV)
Shoki, Shoki
Artista: Femi Kuti
Lançamento: Universal Music
Quanto: R$ 20 (em média)
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