São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2000


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CRÍTICA
Energia cinética aplicada à tristeza

ESPECIAL PARA A FOLHA, EM MONTREUX

Qualquer um que já tenha colocado um disco de afro-beat no seu 3 em 1 não estranhará "Shoki, Shoki". A identificação vem da guitarra funk marcando ritmo, baixo à frente, e a seção de metais, pontuando cada verso. Solos de saxofone aparecem a todo momento, até por ser Femi antes instrumentista que cantor.
Femi não explora o que não tem -uma voz hábil. Mas faz uso de um vigor que algum crítico já chamou de "muscular", talvez impressionado pelo close de seu torso nu na imagem da capa. Seus vocais, portanto, não competem com os instrumentos. E os demais -femininos- aparecem como eficaz complemento e frisam a "mensagem". Não tivesse tal mensagem a passar, Femi produziria, aliás, grandes discos instrumentais. Parece fazer um cruzamento de Otis Redding e Manu Dibango que resulta em polirritmia, ainda que por vezes com metais polidos demais.
Femi não se converteu à eletrônica. O que se ouve é pura energia cinética aplicada à tristeza. Um paradoxo, mesmo para ouvintes sul-americanos. Sua música é um lamento. Lá está ele repetindo: "I sorry/Sorry for Africa" no meio de um turbilhão de não deixar defunto dormir.
Ao contrário do que se faz no Brasil, Femi não se apóia em percussão. Ela está lá, mas uniforme, cozinhando para o delírio dos sopros. Quem for ao Free Jazz verá um show que emula o disco. Quem o viu em Montreux não pode se queixar. Femi Kuti em disco ou "live" faz pensar no antigo slogan da Sears. (PV)
Shoki, Shoki     
Artista: Femi Kuti Lançamento: Universal Music Quanto: R$ 20 (em média)

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