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MÚSICA/LANÇAMENTOS
"BEAT EM UP"
Aos 54, antigo membro do Stooges volta ao seu lado cru e sujo
Iggy Pop oscila entre o punk e o heavy metal
DA REPORTAGEM LOCAL
"Beat Em Up", novo álbum
do norte-americano Iggy
Pop, 54, marca sua chegada -ou
retorno- a um universo indeciso
entre o punk e o heavy metal.
Se com sua banda Stooges, no
final dos 60, Iggy demarcou terreno para a eclosão do punk, quase
dez anos mais tarde, hoje o herói
se esforça pesadamente por demonstrar a fúria e a feiúra de tempos outros. E às vezes parece mais
metaleiro à Sepultura ("Howl")
que o punk envenenado de antes.
Por hercúleo que seja, o esforço
não livra o resultado da flacidez,
que vence tanto as faixas aceleradas quanto as semibaladas
("Football") saudosas de climas
gloriosos como os do clássico
"The Passenger" (77). O flerte
com o ambiente fascista do heavy
metal não chega a predominar, e
nisso salvam Iggy rascantes e
sempre muito irônicas letras.
Por elas se vai chegando mais
perto do mundo de Pop. Nele, o
"salvador" é um ser repulsivo que
usa sapatos Gucci e é dono de um
pitbull ("Savior"), os astros do
rock são patéticos ("V.I.P.") e o
próprio Iggy é um "tiranossauro
americano gigante" ("L.O.S.T.").
Em "Mask", tenta desnudar os
jogos hipócritas que o movimento punk dizia combater: "Você está usando uma máscara/ fica melhor assim", "onde está o amor?/
onde estou?". A loa inconformada
segue por "Go for the Throat"
("estou sem família", "sem amigos"). Puxa.
A retórica é brava, mas as convenções metaleiras transformam
o CD em objeto compacto, repetitivo tematicamente, que desmente a proposta "pop art" da capa (e
da própria carreira de Iggy). A
fórmula será velha: agradar os fãs
mais "radicais" e desagradar os
adoradores de desvios pop tipo
"Candy" (90) ou mesmo a mais
acelerada "Lust for Life" (77).
É opção transitória, como se pode notar pela oscilação sistemática dos tons adotados pelo artista
em seus discos, principalmente
dos anos 80 em diante. Acaba sendo um dado comum entre certos
músicos que viram com o tempo
sua arte se tornar grande demais.
Como Lou Reed e Neil Young, só
para citar exemplos próximos,
Iggy parece alternar álbuns que
possam fazer felizes subcamadas
bem definidas de seu público.
Vem um punk ("The Idiot", 77),
um new wave ("Soldier", 80), outro -susto- meio world music
("Zombie Birdhouse", 82), então
rock pesado ("Instinct", 88), algo
bem pop ("Brick by Brick", 90)...
O ciclo sempre se reinaugura.
Esta é a hora do Iggy Pop mais
cru, sujo e malvado, e não adianta
achar que presta ou não. É o artista grandão seguindo sua rota
constante de tanta inconstância. E
às vezes arrastada, melancólica.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Beat Em Up
Artista: Iggy Pop
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 25, em média
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