São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2001

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

"BEAT EM UP"

Aos 54, antigo membro do Stooges volta ao seu lado cru e sujo

Iggy Pop oscila entre o punk e o heavy metal

DA REPORTAGEM LOCAL

"Beat Em Up", novo álbum do norte-americano Iggy Pop, 54, marca sua chegada -ou retorno- a um universo indeciso entre o punk e o heavy metal.
Se com sua banda Stooges, no final dos 60, Iggy demarcou terreno para a eclosão do punk, quase dez anos mais tarde, hoje o herói se esforça pesadamente por demonstrar a fúria e a feiúra de tempos outros. E às vezes parece mais metaleiro à Sepultura ("Howl") que o punk envenenado de antes.
Por hercúleo que seja, o esforço não livra o resultado da flacidez, que vence tanto as faixas aceleradas quanto as semibaladas ("Football") saudosas de climas gloriosos como os do clássico "The Passenger" (77). O flerte com o ambiente fascista do heavy metal não chega a predominar, e nisso salvam Iggy rascantes e sempre muito irônicas letras.
Por elas se vai chegando mais perto do mundo de Pop. Nele, o "salvador" é um ser repulsivo que usa sapatos Gucci e é dono de um pitbull ("Savior"), os astros do rock são patéticos ("V.I.P.") e o próprio Iggy é um "tiranossauro americano gigante" ("L.O.S.T.").
Em "Mask", tenta desnudar os jogos hipócritas que o movimento punk dizia combater: "Você está usando uma máscara/ fica melhor assim", "onde está o amor?/ onde estou?". A loa inconformada segue por "Go for the Throat" ("estou sem família", "sem amigos"). Puxa.
A retórica é brava, mas as convenções metaleiras transformam o CD em objeto compacto, repetitivo tematicamente, que desmente a proposta "pop art" da capa (e da própria carreira de Iggy). A fórmula será velha: agradar os fãs mais "radicais" e desagradar os adoradores de desvios pop tipo "Candy" (90) ou mesmo a mais acelerada "Lust for Life" (77).
É opção transitória, como se pode notar pela oscilação sistemática dos tons adotados pelo artista em seus discos, principalmente dos anos 80 em diante. Acaba sendo um dado comum entre certos músicos que viram com o tempo sua arte se tornar grande demais. Como Lou Reed e Neil Young, só para citar exemplos próximos, Iggy parece alternar álbuns que possam fazer felizes subcamadas bem definidas de seu público.
Vem um punk ("The Idiot", 77), um new wave ("Soldier", 80), outro -susto- meio world music ("Zombie Birdhouse", 82), então rock pesado ("Instinct", 88), algo bem pop ("Brick by Brick", 90)... O ciclo sempre se reinaugura.
Esta é a hora do Iggy Pop mais cru, sujo e malvado, e não adianta achar que presta ou não. É o artista grandão seguindo sua rota constante de tanta inconstância. E às vezes arrastada, melancólica. (PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Beat Em Up   
Artista: Iggy Pop
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 25, em média



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