São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2001

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ANÁLISE

Diva não precisa provar mais nada

CÁSSIO STARLING CARLOS
EDITOR DO FOLHATEEN

No fim dos anos 80, quando os Sugarcubes estouraram mundo afora, aquele vocal meio gritado e muito dissonante foi um dos motivos essenciais do furor causado pela banda. E lá já estava aquela islandesa com aparência de gnomo fazendo das suas.
A banda acabou e liberou as estripulias vocais de Björk para reinar sozinhas, agora em busca de sonoridades que não fossem apenas referências a um punk juvenil.
Após um flerte inicial com a eletrônica (que rendeu "Its-It", excelente álbum de remixes de músicas do Sugarcubes), Björk deu ao mundo sua primeira cria com assinatura própria (descontando a visita ao jazz islandês realizada em "Ging-Gló").
Singelamente intitulado "Debut", o disco solo de Björk revelava um pop fora de registro. Bases eletrônicas e arranjos orquestrais suportavam letras em um inglês quase infantil. O vocal deslizava do sussurrado ao rítmico e já apontava para o inesperado (em "Come to Me", por exemplo).
Seu sucessor, "Post", acentuou ainda mais a inquietação, atitude incomum no universo pop, domínio da repetição e da diluição. Com o auxílio da eletrônica, Björk acentuou seu gosto por canções épicas (como "Hyper-Ballad"), infiltrando nelas emoções difíceis de traduzir a não ser por imagens (tarefa que seus clipes cumprem com perfeição).
Em seguida, partiu para a construção de um mundo sonoro ainda mais à imagem e semelhança de seus recursos vocais. O resultado foi "Homogenic", disco homogêneo só no nome e no qual a eletrônica, os arranjos de cordas de Eumir Deodato e as discrepâncias vocais da cantora se sobrepõem em busca de uma desarmonia perdida ("Pluto") ou desenhando paisagens de uma natureza indomável ("Bacherolette").
Depois de garantir um lugar na história dos musicais com "Selmasongs" (trilha de "Dançando no Escuro"), Björk está ainda mais Björk em "Vespertine". O resultado: um álbum pleno, no qual a diva não precisa provar mais nada, só reina sozinha num mundo de fadas que ela construiu para seu deleite -e o nosso.



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