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CRÍTICA
Nova versão é racista e inferior ao original
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Lembra-se da dra. Zira, do
Cornelius e do dr. Zaius? Do
Taylor/Olhos Azuis e da mudinha
Nova? Não tem nada disso na refilmagem que Tim Burton fez do
primeiro episódio de "Planeta dos
Macacos", que estréia hoje nos
EUA e chega sexta ao Brasil.
Também não tem aquela ingenuidade do filme de 1968, reflexo
de uma época em que o "bem" e o
"mal" pareciam mais bem-definidos e assim ficava fácil torcer pelos humanos/mocinhos e ter raiva
dos macacos/tiranos. Mas o pior é
que o filme atual é racista.
Racista, sim. Evidência número
1: a certa altura, um dos humanos
refere-se aos macacos como
"monkeys", em vez de "apes"
(ambas as palavras querem dizer
"macaco", em inglês). É reprimido por um deles, que diz: "Nós
achamos "monkey" pejorativo;
por favor, nos chame de "ape'".
É referência nada sutil à reivindicação do movimento negro
americano, que acha o termo
"black" aceitável, mas considera
"nigger" uma das piores ofensas.
Evidência número 2: nas entrevistas que deu à imprensa, Helena
Bonham-Carter disse que a peruca de sua personagem, a macaca
Ari, foi inspirada no penteado da
cantora negra Janet Jackson.
OK, pode ser que o crítico esteja
sendo politicamente correto demais. Mesmo assim, a refilmagem
é inferior ao original. Na transposição do "cinema ético" de Franklin J. Schaffner (o diretor do de
1968) para o "cinema criativo" de
Burton, perdeu a história.
Parte é culpa do roteiro, que foi
descuidado. Parte é a contradição
que é um cineasta original como
Burton dedicar-se a uma releitura. Salvam-se Tim Roth, excelente
como o general-macaco Thade; a
ponta irônica de Charlton Heston, que era o mocinho do primeiro filme; e a cena final, bem
sacada e inusitada.
Planeta dos Macacos
The Planet of the Apes
Direção: Tim Burton
Produção: EUA, 2001
Com: Tim Roth, Helena Bonham-Carter
Quando: estréia dia 3 de agosto
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