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"BEM-VINDOS"
Caos familiar e rito de passagem permeiam obra de Moodysson
CRÍTICO DA FOLHA
Com panorâmicas ligeiras
e zooms incisivos, o diretor
sueco Lukas Moodysson cimenta,
em segundos, o chão de seu segundo longa, "Bem-Vindos", em
cima de situações colaterais. Ele
assinala assim, sem delongas, a
coexistência de dois mundos paralelos no interior da Suécia dos
anos 70: o universo estéril e preconceituoso da classe média convencional e o "mundo de ponta-cabeça" de uma efervescente comunidade hippie.
Enquanto Göran (Gustav Hammarsten) comemora, em sua comunidade hippie, a morte do ditador espanhol Franco, sua irmã
pequeno-burguesa, Elizabeth, leva uma surra do marido em casa.
Göran busca então a irmã e os sobrinhos na casa do cunhado alcoólatra e é espionado pelos vizinhos caretas e maledicentes.
Essa colateralidade de situações
logo se perde, mas não porque,
entrando na casa de Göran e mergulhando no cotidiano da comunidade, passamos a nos restringir
à visão de um desses mundos. A
força do filme vem da postura
conciliatória do autor. Moodysson, a exemplo do fraterno Göran, acredita no diálogo: ao contrário da comunidade de "Os
Idiotas", de Lars von Trier, a de
Moodysson não é excludente.
Ambientado nos anos 70,
"Bem-Vindos" não tem o distanciamento de um filme de época. E
sua atualidade não reside tanto na
"revolução dos costumes" quanto
na recuperação de um certo espírito de fraternidade combativa.
É em nome da luta e por generosidade de propósito que Moodysson se dirige justamente aos personagens mais irrecuperáveis,
que imaginávamos obliterados.
Ele passa a se deter no marido
alcoólatra de Elizabeth e no filho
do vizinho, personagens que devem crescer (e amolecer) no
"grande mingau" social da utopia
comunitária de Göran.
Mas santo de casa não faz milagre, e Göran mal consegue dar
conta da mulher ninfômana nem
se faz entender pelos sobrinhos,
cuja formação pequeno-burguesa
bate de frente com o universo
contracultural da comunidade.
Numa casa de "mutantes", habitada por mulheres decididas a
se converterem ao lesbianismo,
revolucionários obstinados incapazes de amar e seres orgásticos
fora de controle, atos corriqueiros
como a limpeza da louça geram
debates acalorados. Cada um
aprenderá, ao final, a lição que lhe
é devida. Mas, como se trata de
germinar uma nova percepção do
mundo, a lição primeira cabe às
crianças, que devem cumprir aqui
(tal como em "Amigas de Colégio", primeiro longa de Moodysson) um rito de passagem.
(TIAGO MATA MACHADO)
Bem-Vindos
Tillsammans
Direção: Lukas Moodysson
Produção: Suécia, 2000
Com: Lisa Lindgren, Michael Nyqvist e
Gustav Hammarsten
Quando: a partir de hoje nos cines Sala
UOL, Pátio Higienópolis e Cinearte
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