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CRÍTICA
Longa não supera baixeza e comercialismo hollywoodianos
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Entre a mercantilização da
sexualidade e a sexualização
da mercadoria, Hollywood consolidou sua hegemonia comercial. Do corpo-fetiche de Marlene
Dietrich ao erotismo cosmético
de Marilyn: é longa a esteira de
produção da qual descende Jewel
(Liv Tyler) de "Que Mulher É Essa?" A transformação do corpo feminino em objeto de desejo e consumo foi, desde sempre, operação
(comercial) primeira do "star
system" hollywoodiano, mas a
história da domesticação das
vamps é outra. É nela que entra
Jewel, vamp que não almeja senão
seus direitos de consumidora.
No início dos anos 30, enquanto
satisfaziam os desejos voyeuristas
do público masculino, as vamps
incorporavam, em sua emancipação sexual e econômica, conquistas dos movimentos feministas
dos anos 20. Faziam-se de objeto,
mas para humilhar os homens, se
afirmando como sujeito social.
Não era tanto a independência
econômica quanto sexual dessas
vamps que incomodava os moralistas americanos. Com a criação
do código Hays de censura (1934),
sexualidade feminina tornou-se
sinônimo de perigo. Surgem as
"femmes fatales" do cinema noir
dos 40, jovens interesseiras de
erotismo com "valor de troca".
Com esse "valor de troca", Jewel
se faz de objeto para obter objetos:
homens consomem seu corpo, e
ela realiza o sonho de montar
uma casa com aparelhos de última geração. Mais do que comédia
rasteira sobre beleza fatal, o filme
é a tragédia de um mundo que já
não pode conceber o desejo senão
enquanto desejo de consumo.
Fantasias sexuais dos homens
são como sonhos de consumo, e o
corpo de Jewell é como uma mercadoria enfileirada ao lado de outras tantas, em cenas que mal disfarçam seus merchandisings (de
carros, cosmésticos, DVDs...).
Como na tradição, as aparições
da vamp são exploradas aqui como instantes de voyeurismo que
interrompem, necessariamente, a
narrativa: o mundo fica em suspenso quando Jewell aparece pela
primeira vez para os homens (um
policial católico, um advogado
pretensioso e um barman sem
ambição). O diretor Harald
Zwart, estreante, tem ao menos o
mérito de escancarar, com grosseira inabilidade, os mais vis recursos dessa que é a vertente mais
baixa (e pornográfica, a despeito
mesmo da ausência de nudez) do
comercialismo hollywoodiano.
Que Mulher É Essa?
One Night at McCool's
Direção: Harald Zwart
Produção: EUA, 2001
Com: Liv Tyler, Michael Douglas, Matt Dilon, John Goodman
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Eldorado e circuito
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