São Paulo, sábado, 27 de julho de 2002

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"HISTÓRIA DO VOTO..."

Sociólogo revê processo eleitoral no país

ESPECIAL PARA A FOLHA

Eu, como tantos outros eleitores, sou ligado a tudo o que diz respeito à psicologia do eleitor brasileiro, o mais jovem do planeta, o qual vive o seguinte paradoxo: adora votar mas não está nem aí para o resultado da eleição. A tendência é converter o processo eleitoral num gesto lúdico, um jogo sujeito a palpites, apostas e estatísticas.
Nestes tempos eleitorais, tenho perguntado a pessoas do povão: votou em quem na última eleição? A resposta comum é a de não lembrar nem o nome do candidato.
Acrescente-se a isso a miséria e tudo complica. O voto para gente pobre é quase sempre objeto de troca. Venda. Saco de cimento.
É ingenuidade ou mistificação imaginar que o pobre saiba votar. Na maioria das vezes vota mal, inclusive vota só nos candidatos endinheirados. E o faz com a esdrúxula justificativa: "votei no cheio da grana porque já é rico e não precisa roubar".
Neste livro, o sociólogo Jairo Nicolau nos oferece informações curiosas sobre o voto no Brasil. Em 1932, logo após a revolução de 30, foi concedido o direito de voto às mulheres. Nisso o Brasil adiantou-se a países como França, Itália, Japão, Argentina, Suíça, etc. Todavia, foi o último país a conceder o direito de voto ao analfabeto.
O autor é um entusiasta da urna eletrônica, pois reduz a margem dos votos anulados no preenchimento da cédula de papel, permite a rápida apuração e elimina a fraude.
"Hoje os eleitores escolhem os representantes para os principais postos de poder (presidente, senador, deputado federal, governador, deputado estadual, prefeito e vereador) e pouca gente duvida da legitimidade do processo eleitoral brasileiro. As fraudes foram praticamente eliminadas. A urna eletrônica permite que os resultados sejam proclamados poucas horas após o pleito. As eleições são competitivas, com enorme oferta de candidatos e partidos (média de 30 partidos por eleição)."
A falsificação eleitoral, o bico de pena e a degola são coisas do passado, acredita Nicolau. Mas será isso verdade? Será que não se corre o risco de um malandro bico de computador? Desde 1996 o voto da urna eletrônica foi implantado, mas é neste ano que poderemos avaliar efetivamente o que vai acontecer com o pleito presidencial.
Há muita gente que discorda -e não só por uma razão paranóica da legitimidade do atual processo eleitoral. O custo da campanha. O formato eleitoral gratuito. Por que não um horário eleitoral gratuito no rádio e na TV durante todo o ano? O fato intrigante é que a democracia do voto, espécie de videovoto, é acompanhado de uma progressiva despolitização da sociedade. Mas isso não foi objeto de cogitação e análise neste livro otimista sobre o voto no Brasil.
(GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS)

Gilberto Felisberto Vasconcellos é professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (MG)



História do Voto no Brasil    
Autor: Jairo Nicolau
Editora: Jorge Zahar Editor
Quanto: R$ 14 (84 págs.)




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