São Paulo, segunda-feira, 27 de agosto de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O triunfo dos pinguins de geladeira


A partir de quarta-feira, exposição "Viva o Kitsch" apresenta 2.000 peças no Masp Centro e coloca no campo da arte objetos banais do cotidiano



Colagem com astros pop da década de 50, que está entre os 2.000 objetos da mostra "Viva o Kitsch", doados por Olney Krüse


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém escapa dele. Segundo o acadêmico Umberto Eco, o kitsch é a "comunicação que tende à provocação do efeito". Assim, em termos ampliados, o kitsch está mais para um comportamento do que para um objeto em si.
Falando de comportamento, é natural que o kitsch esteja então presente em várias manifestações, seja nas artes consideradas altas, como ópera ou teatro, ou até na televisão -e aí a produção brasileira faz escola.
Não é por acaso que a madrinha da mostra "Viva o Kitsch", que será inaugurada na filial do centro do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na quarta, é a apresentadora Hebe Camargo. Mestre da comunicação televisiva, efeitos especiais, por assim dizer, não faltam no seu estilo. Um exemplo? O próprio vestido que Hebe doa para a mostra e que fará parte do acervo kitsch do museu. A roupa, feita para a estréia da apresentadora no SBT, criada por Eduardo Albarela, é uma cópia de um vestido da cantora americana Cher.
O termo kitsch, segundo texto do crítico Frederico Morais, surgiu na segunda metade do século 19, quando turistas norte-americanos (tinha de ser eles!) na Europa pediam a pintores que realizassem esboços (sketch) de quadros, o que seria mais barato. Assim, a cópia é a origem do kitsch. Olha aí por que o vestido de Hebe é kitsch.
Mas, ainda segundo Morais, uma das outras características do kitsch é o "horror ao vazio". É natural então, que os dois salões do Masp Centro estejam abarrotados com cerca de 2.000 objetos doados pelo colecionador Olney Krüse, que é também curador da mostra no Masp.
"É uma embriaguez organizada", define a também curadora Eunice Moraes Sophia. As peças estão dispostas por função e cor. Rosa, dourado e prateado, é claro, sobressaem-se na mostra.
Em 1984, o então diretor do Masp, Pietro Maria Bardi, organizou a primeira exposição sobre kitsch no museu, também feita com a doação de parte da coleção de Krüse (700 peças). Os objetos foram para o acervo do museu, e são até hoje vistos com olhos de desdém por membros da diretoria do Masp, que preferem gabar-se das cerca de mil obras de arte européia. Entretanto, quando o museu recebe a visita de curadores internacionais, acostumados com arte européia, a atenção volta-se mesmo é para o acervo kitsch, caso do ministro da Cultura da Rússia, que esteve no Masp, no início do ano.
"Esta mostra tem um grande apelo popular, as pessoas ficam felizes em observar que elas possuem peças semelhantes às do acervo do Masp", afirma Sophia.
Entre as peças, como não poderia deixar de ser, o pinguim de geladeira comparece em várias versões. Ou, então, canecas com formatos de frutas e bolo de casamento. E cópias, muitas. Por exemplo, uma falsificação do perfume Chanel nš 5, comprada a alguns metros da exposição. Quem nunca teve um objeto kitsch que atire a primeira pedra.

VIVA O KITSCH - mostra com cerca de 2.000 peças do acervo do Masp sobre o tema. Curadoria: Olney Krüse e Eunice Moraes Sophia. Onde: Masp Centro (praça do Patriarca, s/nš, galeria Prestes Maia, tel. 0/xx/11/3101-7666). Quando: abertura na quarta, às 19h (para convidados); de seg. a sáb., das 12h às 17h. Quanto: R$ 4. Patrocinador: M. Officer.



Texto Anterior: Programação de TV
Próximo Texto: Para curador, mostra será "coruscante"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.