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CRÍTICA
Filme une popular e cult
COLUNISTA DA FOLHA
"Samba Canção" é um
desses raros filmes que surgem de quando em quando para
superar as falsas dicotomias diversão/reflexão, sofisticado/popular, tradição/vanguarda.
Há nele, por um lado, uma discussão dos problemas centrais
que cercam o cinema brasileiro e
o tornam quase um emblema das
dificuldades do país: falta de recursos, mercado interno incipiente, dependência tecnológica e cultural, ausência de projeto duradouro, corrupção generalizada.
Rafael Conde colecionou e colocou na tela situações absurdas por
que passam os realizadores em
busca de verbas para filmar.
Em paralelo a essa cômica via-crúcis, o filme desenvolve outra
trama: a tentativa da produtora
Edna Marla de criar, num laboratório doméstico, uma película
100% nacional, que nos livraria da
dependência externa e seria capaz
de captar nossas cores tropicais
com "uma temperatura para Almodóvar nenhum botar defeito".
Se a tragicomédia da busca de
recursos desemboca no crime revolucionário ("expropriação" de
bancos), a busca utópica da
emancipação tecnológica termina
num "trash" antropofágico, com
direito a ossos humanos num caldeirão de laboratório e um monstro feito de celulóide.
A par de tudo isso, o filme é
pontuado de referências a batalhadores do cinema brasileiro, de
Humberto Mauro a Mojica, Sganzerla e Andrea Tonacci.
Por último, a despeito de seu alcance universal, trata-se de um filme radicalmente belo-horizontino. A cidade respira e pulsa na tela
como não acontecia desde "Bang
Bang" (70), de Tonacci.
É, em suma, um formidável safanão no cinema bonitinho e
aburguesado que se faz hoje no
Brasil.
(JOSÉ GERALDO COUTO)
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