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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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MÚSICA

"Uma Canção pelo Ar..." leva cantora paulista a mergulhar em temas que ouvia em sua infância e juventude

Cida Moreira cede ao cancioneiro popular

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Formada na vanguarda paulistana cantando Arrigo Barnabé e Bertolt Brecht, Cida Moreira inverte parâmetros ao lançar o CD de comemoração de seus 50 anos.
"Uma Canção pelo Ar..." agrupa canções que marcaram a Cida menina e a Cida adolescente, o que inclui modinhas, clássicos de Noel Rosa, Waldir Azevedo e mesmo o perfume caipira de "Casinha Pequenina", "Chuá Chuá" e "Lampião de Gás".
"O tempo está me deixando mais à vontade. Em outro momento eu teria certo pudor em me expor assim, certo pudor de as pessoas acharem que a gente já não é tão mocinha assim", condensa o espírito do disco.
Diz que não há aí um laço desfeito com a vanguarda -até porque tem viajado pelo Brasil e pela América Latina com a ópera pop "O Homem dos Crocodilos", de Arrigo Barnabé. "Me acho muito moderna fazendo tudo isso."
Cida admite que visita um universo que negava quando era mais moça. "Jamais pensei em cantar "Lampião de Gás" até três meses antes de gravar. Mas aí ouvi uma gravação de Inezita Barroso e disse: "Gente, isso é a minha infância". Esteticamente nem é uma grande coisa, mas Zica Bergami foi uma compositora muito importante para São Paulo".
Mesmo os laços com certa modernidade no CD ocultam raízes mais antigas, como ela afirma ser o caso de "Se Todos Fossem Iguais a Você" (56), dos tenros Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
"Eu cantava essa música sem saber quem era Tom Jobim, quando minha mãe ouvia em casa na versão de Lana Bittencourt", lembra. A modinha imperial "Si Te Adoro" também foi aprendida com os discos da mãe, numa gravação de Lenita Bruno.
A última canção "Tempo e Artista" (93), de Chico Buarque, interrompe a tendência do disco às canções mais antigas, e Cida expõe um dos porquês: "Tive a idéia de gravar só modinhas, mas isso já seria um suicídio econômico".
Oferece mais outro: "É um depoimento psicológico meu, sobre procurar fazer o tempo trabalhar a favor da gente. Recebi um recado do Chico dizendo que só eu mesmo para gravar essa música. Tem gente que a acha chata".
Explica a admissão do cancioneiro popular de São Paulo e do Brasil, em contraste com o experimentalismo que guiou sua geração e seu grupo de vanguardeiros: "Deve ser o amadurecimento, um certo respeito por mim mesma".

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