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MÚSICA
"Uma Canção pelo Ar..." leva cantora paulista a mergulhar em temas que ouvia em sua infância e juventude
Cida Moreira cede ao cancioneiro popular
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Formada na vanguarda paulistana cantando Arrigo Barnabé e
Bertolt Brecht, Cida Moreira inverte parâmetros ao lançar o CD
de comemoração de seus 50 anos.
"Uma Canção pelo Ar..." agrupa canções que marcaram a Cida
menina e a Cida adolescente, o
que inclui modinhas, clássicos de
Noel Rosa, Waldir Azevedo e
mesmo o perfume caipira de "Casinha Pequenina", "Chuá Chuá" e
"Lampião de Gás".
"O tempo está me deixando
mais à vontade. Em outro momento eu teria certo pudor em me
expor assim, certo pudor de as
pessoas acharem que a gente já
não é tão mocinha assim", condensa o espírito do disco.
Diz que não há aí um laço desfeito com a vanguarda -até porque tem viajado pelo Brasil e pela
América Latina com a ópera pop
"O Homem dos Crocodilos", de
Arrigo Barnabé. "Me acho muito
moderna fazendo tudo isso."
Cida admite que visita um universo que negava quando era
mais moça. "Jamais pensei em
cantar "Lampião de Gás" até três
meses antes de gravar. Mas aí ouvi
uma gravação de Inezita Barroso
e disse: "Gente, isso é a minha infância". Esteticamente nem é uma
grande coisa, mas Zica Bergami
foi uma compositora muito importante para São Paulo".
Mesmo os laços com certa modernidade no CD ocultam raízes
mais antigas, como ela afirma ser
o caso de "Se Todos Fossem
Iguais a Você" (56), dos tenros
Tom Jobim e Vinicius de Moraes.
"Eu cantava essa música sem saber quem era Tom Jobim, quando
minha mãe ouvia em casa na versão de Lana Bittencourt", lembra.
A modinha imperial "Si Te Adoro" também foi aprendida com os
discos da mãe, numa gravação de
Lenita Bruno.
A última canção "Tempo e Artista" (93), de Chico Buarque, interrompe a tendência do disco às
canções mais antigas, e Cida expõe um dos porquês: "Tive a idéia
de gravar só modinhas, mas isso
já seria um suicídio econômico".
Oferece mais outro: "É um depoimento psicológico meu, sobre
procurar fazer o tempo trabalhar
a favor da gente. Recebi um recado do Chico dizendo que só eu
mesmo para gravar essa música.
Tem gente que a acha chata".
Explica a admissão do cancioneiro popular de São Paulo e do
Brasil, em contraste com o experimentalismo que guiou sua geração e seu grupo de vanguardeiros:
"Deve ser o amadurecimento, um
certo respeito por mim mesma".
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