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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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CRÍTICA

Artista expõe trajeto de reconciliação

DA REPORTAGEM LOCAL

Além de música, "Uma Canção pelo Ar..." é o roteiro de emoções de uma cantora senhora ao longo de sua vida -é quase mais documento que disco.
O roteiro também é simples: pertencendo à vanguarda, na juventude Cida Moreira seguia Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção no sonho cosmopolita, universal, agressivamente experimental. Negava então a São Paulo provinciana que a criara e a formara, em que cabiam modinha do imaginário coletivo ("Casinha Pequenina"), Custódio Mesquita ("Quem É?"), Adoniran Barbosa ("Prova de Carinho")...
Hoje, se reconcilia com todos eles, sem que nunca os tenha abandonado por completo. Ao cantá-los, assume-os mais que se sujeita a eles.
Tal desprendimento é o que torna especiais as canções mais ingênuas do disco, como "Lampião de Gás", "Estrada do Sertão" (João Pernambuco-Hermínio Bello de Carvalho) e, sobretudo, "Chuá Chuá". É o que faz também o canto mais impostado, mais tenso, quando se trata de Villa-Lobos ("Canção do Amor") ou de Tom Jobim -o que causava conforto hoje tem um travo de incômodo, já não é mais suficiente.
Resulta sempre bonito, nunca inventivo no sentido que era "Clara Crocodilo", de Arrigo, filtrada pelas vontades ásperas de 1986.
Esse deve ser o trajeto da idade, da invenção à acomodação, o que traz melancolia e impressão de quietude ao resultado final. Ou deve ser o acomodamento da artista madura ao que ela sempre prezou. Ou ambos. A São Paulo de Cida Moreira termina o disco ainda isolada, mas enobrecida, nua de preconceitos.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Uma Canção pelo Ar...   
Artista: Cida Moreira
Lançamento: Kuarup
Quanto: R$ 28, em média



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