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CRÍTICA
Artista expõe trajeto de reconciliação
DA REPORTAGEM LOCAL
Além de música, "Uma Canção pelo Ar..." é o roteiro de
emoções de uma cantora senhora
ao longo de sua vida -é quase
mais documento que disco.
O roteiro também é simples:
pertencendo à vanguarda, na juventude Cida Moreira seguia Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção no sonho cosmopolita, universal, agressivamente experimental. Negava então a São Paulo
provinciana que a criara e a formara, em que cabiam modinha
do imaginário coletivo ("Casinha
Pequenina"), Custódio Mesquita
("Quem É?"), Adoniran Barbosa
("Prova de Carinho")...
Hoje, se reconcilia com todos
eles, sem que nunca os tenha
abandonado por completo. Ao
cantá-los, assume-os mais que se
sujeita a eles.
Tal desprendimento é o que torna especiais as canções mais ingênuas do disco, como "Lampião de
Gás", "Estrada do Sertão" (João
Pernambuco-Hermínio Bello de
Carvalho) e, sobretudo, "Chuá
Chuá". É o que faz também o canto mais impostado, mais tenso,
quando se trata de Villa-Lobos
("Canção do Amor") ou de Tom
Jobim -o que causava conforto
hoje tem um travo de incômodo,
já não é mais suficiente.
Resulta sempre bonito, nunca
inventivo no sentido que era "Clara Crocodilo", de Arrigo, filtrada
pelas vontades ásperas de 1986.
Esse deve ser o trajeto da idade,
da invenção à acomodação, o que
traz melancolia e impressão de
quietude ao resultado final. Ou
deve ser o acomodamento da artista madura ao que ela sempre
prezou. Ou ambos. A São Paulo
de Cida Moreira termina o disco
ainda isolada, mas enobrecida,
nua de preconceitos.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Uma Canção pelo Ar...
Artista: Cida Moreira
Lançamento: Kuarup
Quanto: R$ 28, em média
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