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Lila Downs chega para apresentar México além do Oscar
FLÁVIA CELIDÔNIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A apresentação ao lado de Caetano Veloso na entrega do Oscar é
a única referência que o Brasil tem
dela. A lembrança dessa noite é de
uma mulher com voz poderosa,
usando uma vestimenta cheia de
cores e muito mais segura e tranquila do que o experiente músico
baiano. Mas a partir desta sexta, o
público brasileiro terá a chance de
conhecer melhor a cantora Lila
Downs, que fará três shows em
São Paulo dentro da Mostra Sesc
de Artes - Latinidades.
Filha de um americano e de
uma mulher de origem mixteca
(etnia pré-colombiana), Downs
tem no nome e no sangue as duas
culturas distintas, que fazem dela
uma figura tão peculiar.
Nascida em 1968 no alto das
montanhas de Tlaxiaco, no sul do
México, Downs cresceu entre o
país da mãe e Minnesota, Estado
natal do pai. O fato de ser filha de
uma mulher de origem indígena
já foi motivo de vergonha. Downs
clareou o escuro cabelo e rechaçava a origem materna. Até que essas diferenças passaram a ser o
objeto de seu trabalho.
Misturando canções tradicionais mexicanas e caribenhas, como as cumbias, as rancheras e os
corridos, com ritmos contemporâneos como o hip hop, ela joga
luz sobre a cultura mexicana e
ainda usa a música para denunciar os problemas sociais de seu
país. Com três discos lançados,
"La Sandunga", "Árbol de la Vida" e "Border/La Línea", ela já
percorreu musicalmente o México de norte a sul e mostrou que o
jazz é igualmente importante na
sua formação.
Downs falou com a Folha, por
telefone, de Nova York, onde vive
com o marido e também músico
de sua banda Paul Cohen e comentou o desafio de tocar para
platéias brasileiras. "Eu tenho algum temor, sim, de me apresentar para um público que não me
conhece, mas penso que a minha
música vai ser de alguma forma
reconhecida pelos brasileiros por
causa das origens diversas e semelhantes que formam os povos mexicano e brasileiro", afirma. Ela se
refere a raízes indígenas, africanas
e européias que formam a cultura
de México e Brasil.
Downs ficou mais próxima do
público brasileiro desde que participou do filme "Frida", sobre a
vida de um dos principais símbolos das artes no México. Ela representou no filme exatamente o que
é: uma cantora, uma voz. ""Frida"
foi uma grande oportunidade para mim, muita gente que não me
conhecia passou a saber um pouco mais sobre o meu trabalho."
Lila Downs diz crer que o mundo está se abrindo mais para a diversidade de culturas. "Escutar
Cesaria Evora ou Chico César me
faz conhecer um pouco mais a vida, a cultura e os problemas dos
países deles", diz. Mas ela também lembra que há muito chão a
ser percorrido nesse campo e chama atenção para a distância que
existe entre México e Brasil: "Há
muito espaço para a música brasileira no México e vice-versa". Ela
está tentando fazer a sua parte
nessa aproximação. Sua banda é
composta por músicos do Paraguai, Cuba, EUA e Brasil, com o
guitarrista Guilherme Monteiro.
O Brasil ainda não conhece Lila
Downs, mas ela conhece a música
brasileira há muito tempo. A admiração por Caetano é antiga,
mas passa também por Elis Regina ("de quem tenho vários discos") e Tom Jobim. De artistas da
safra mais recente, a predileção da
cantora se divide entre Virgínia
Rodrigues, Mônica Salmaso e o já
referido Chico César.
Pode ser que, depois de suas
apresentações, o público brasileiro faça perguntas diferentes das
que ela esta acostumada a responder sobre a noite do Oscar: Caetano estava mesmo nervoso como
parecia? Muito simpática, ela responde: "Uma festa vista por milhões de pessoas em todo o mundo só pode mesmo deixar os nervos à flor da pele. Estávamos todos muito nervosos".
LILA DOWNS. Quando: sexta, às 21h, no
Sesc Santo André (r. Tamarutaca, 302,
tel. 0/xx/11/4469-1200); sábado, às 21h,
e domingo, às 18h, no Sesc Pompéia (r.
Clélia, 93, SP, tel. 0/xx/3871-7700).
Quanto: de R$ 5 a R$ 14 (Sesc Santo
André) e de R$ 8 a R$ 20 (Sesc Pompéia).
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