UOL


São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lila Downs chega para apresentar México além do Oscar

FLÁVIA CELIDÔNIO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A apresentação ao lado de Caetano Veloso na entrega do Oscar é a única referência que o Brasil tem dela. A lembrança dessa noite é de uma mulher com voz poderosa, usando uma vestimenta cheia de cores e muito mais segura e tranquila do que o experiente músico baiano. Mas a partir desta sexta, o público brasileiro terá a chance de conhecer melhor a cantora Lila Downs, que fará três shows em São Paulo dentro da Mostra Sesc de Artes - Latinidades.
Filha de um americano e de uma mulher de origem mixteca (etnia pré-colombiana), Downs tem no nome e no sangue as duas culturas distintas, que fazem dela uma figura tão peculiar.
Nascida em 1968 no alto das montanhas de Tlaxiaco, no sul do México, Downs cresceu entre o país da mãe e Minnesota, Estado natal do pai. O fato de ser filha de uma mulher de origem indígena já foi motivo de vergonha. Downs clareou o escuro cabelo e rechaçava a origem materna. Até que essas diferenças passaram a ser o objeto de seu trabalho.
Misturando canções tradicionais mexicanas e caribenhas, como as cumbias, as rancheras e os corridos, com ritmos contemporâneos como o hip hop, ela joga luz sobre a cultura mexicana e ainda usa a música para denunciar os problemas sociais de seu país. Com três discos lançados, "La Sandunga", "Árbol de la Vida" e "Border/La Línea", ela já percorreu musicalmente o México de norte a sul e mostrou que o jazz é igualmente importante na sua formação.
Downs falou com a Folha, por telefone, de Nova York, onde vive com o marido e também músico de sua banda Paul Cohen e comentou o desafio de tocar para platéias brasileiras. "Eu tenho algum temor, sim, de me apresentar para um público que não me conhece, mas penso que a minha música vai ser de alguma forma reconhecida pelos brasileiros por causa das origens diversas e semelhantes que formam os povos mexicano e brasileiro", afirma. Ela se refere a raízes indígenas, africanas e européias que formam a cultura de México e Brasil.
Downs ficou mais próxima do público brasileiro desde que participou do filme "Frida", sobre a vida de um dos principais símbolos das artes no México. Ela representou no filme exatamente o que é: uma cantora, uma voz. ""Frida" foi uma grande oportunidade para mim, muita gente que não me conhecia passou a saber um pouco mais sobre o meu trabalho."
Lila Downs diz crer que o mundo está se abrindo mais para a diversidade de culturas. "Escutar Cesaria Evora ou Chico César me faz conhecer um pouco mais a vida, a cultura e os problemas dos países deles", diz. Mas ela também lembra que há muito chão a ser percorrido nesse campo e chama atenção para a distância que existe entre México e Brasil: "Há muito espaço para a música brasileira no México e vice-versa". Ela está tentando fazer a sua parte nessa aproximação. Sua banda é composta por músicos do Paraguai, Cuba, EUA e Brasil, com o guitarrista Guilherme Monteiro.
O Brasil ainda não conhece Lila Downs, mas ela conhece a música brasileira há muito tempo. A admiração por Caetano é antiga, mas passa também por Elis Regina ("de quem tenho vários discos") e Tom Jobim. De artistas da safra mais recente, a predileção da cantora se divide entre Virgínia Rodrigues, Mônica Salmaso e o já referido Chico César.
Pode ser que, depois de suas apresentações, o público brasileiro faça perguntas diferentes das que ela esta acostumada a responder sobre a noite do Oscar: Caetano estava mesmo nervoso como parecia? Muito simpática, ela responde: "Uma festa vista por milhões de pessoas em todo o mundo só pode mesmo deixar os nervos à flor da pele. Estávamos todos muito nervosos".


LILA DOWNS. Quando: sexta, às 21h, no Sesc Santo André (r. Tamarutaca, 302, tel. 0/xx/11/4469-1200); sábado, às 21h, e domingo, às 18h, no Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, SP, tel. 0/xx/3871-7700). Quanto: de R$ 5 a R$ 14 (Sesc Santo André) e de R$ 8 a R$ 20 (Sesc Pompéia).


Texto Anterior: Música: Remixes descaracterizam Cesaria Evora
Próximo Texto: VMB: MTV escolhe os melhores clipes
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.