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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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MÚSICA

Canções mais famosas da artista cabo-verdiana recebem roupagem eletrônica em "Club Sodade", para "alcançar os jovens"

Remixes descaracterizam Cesaria Evora

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

A cantora cabo-verdiana Cesaria Evora, que completa 62 anos hoje, não usa o computador nem dá bola para a música eletrônica. "Não conheço nenhum conjunto, mas costumo escutar porque os jovens ouvem aqui em casa", diz, por telefone, da capital de Cabo Verde, Praia.
Mesmo assim ela acaba de lançar "Club Sodade", um disco de "remisturas" (remixes) de suas canções mais famosas.
É de se pensar, então, que as releituras de suas mornas e afins em uma roupagem eletrônica lhe digam alguma coisa. Mas não. Para Evora, não há nenhuma versão que lhe chame a atenção em "Club Sodade", para o bem ou para o mal. "Acho que são todas iguais", afirma.
"O tecno não é um estilo que eu realmente aprecie, mas, se os jovens gostam, se eles acham que assim fica bonito, eu não me importo. É uma forma de alcançar um público mais jovem", pondera. "Mas é minha voz, portanto eu aprecio", completa a cantora.
Resta perguntar se esse disco, lançado apenas um ano depois da coletânea "The Very Best of Cesaria Evora", não seria uma imposição da gravadora. Nesse ponto, a cantora é taxativa em dizer que não. "Não foi imposição, foi uma sugestão, e, se eu concordo com uma idéia, eu faço."
O fato é que há razões para Evora não ter se empolgado com "Club Sodade", mesmo sem entender de música eletrônica.
O álbum, salvo em raras exceções, mostra um desfile de idéias pré-fabricadas, de batidas alienígenas à música de Evora, que aproveitam muito pouco da riqueza rítmica e das melodias sedutoras das canções originais.
Versões como "Nho Antone Escaderode (Kerri Chandler Album Mix)" e "Bondade e Maldade (Yoruba Soul Mix by Osunlade)" são exemplos de falta de originalidade. Ambas dizem muito de uma geração cada vez mais surda para a música, que se contenta em consumir batidas e DJs-grifes.
Os únicos que não se rendem ao "recorte e cole" mais óbvio são Carl Craig e o Señor Coconut. O veterano do tecno de Detroit faz uma versão hipnótica de "Angola", temperando o seu bate-estaca com a percussão original. Já o alemão, que esteve em São Paulo na semana passada, dialoga bem com a versão de Evora para "Besame Mucho", transformado-a num simpático chachachá.
Quem sente "sodade" da Cesaria Evora original deve esperar o lançamento de "Vozes de Amor", só com canções inéditas, previsto para 30 de setembro.


Club Sodade  
Artista: Cesaria Evora
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 27, em média



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