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MÚSICA
Canções mais famosas da artista cabo-verdiana recebem roupagem eletrônica em "Club Sodade", para "alcançar os jovens"
Remixes descaracterizam Cesaria Evora
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
A cantora cabo-verdiana
Cesaria Evora, que completa
62 anos hoje, não usa o computador nem dá bola para a música
eletrônica. "Não conheço nenhum conjunto, mas costumo escutar porque os jovens ouvem
aqui em casa", diz, por telefone,
da capital de Cabo Verde, Praia.
Mesmo assim ela acaba de lançar "Club Sodade", um disco de
"remisturas" (remixes) de suas
canções mais famosas.
É de se pensar, então, que as releituras de suas mornas e afins em
uma roupagem eletrônica lhe digam alguma coisa. Mas não. Para
Evora, não há nenhuma versão
que lhe chame a atenção em
"Club Sodade", para o bem ou para o mal. "Acho que são todas
iguais", afirma.
"O tecno não é um estilo que eu
realmente aprecie, mas, se os jovens gostam, se eles acham que
assim fica bonito, eu não me importo. É uma forma de alcançar
um público mais jovem", pondera. "Mas é minha voz, portanto eu
aprecio", completa a cantora.
Resta perguntar se esse disco,
lançado apenas um ano depois da
coletânea "The Very Best of Cesaria Evora", não seria uma imposição da gravadora. Nesse ponto, a
cantora é taxativa em dizer que
não. "Não foi imposição, foi uma
sugestão, e, se eu concordo com
uma idéia, eu faço."
O fato é que há razões para Evora não ter se empolgado com
"Club Sodade", mesmo sem entender de música eletrônica.
O álbum, salvo em raras exceções, mostra um desfile de idéias
pré-fabricadas, de batidas alienígenas à música de Evora, que
aproveitam muito pouco da riqueza rítmica e das melodias sedutoras das canções originais.
Versões como "Nho Antone Escaderode (Kerri Chandler Album
Mix)" e "Bondade e Maldade (Yoruba Soul Mix by Osunlade)" são
exemplos de falta de originalidade. Ambas dizem muito de uma
geração cada vez mais surda para
a música, que se contenta em consumir batidas e DJs-grifes.
Os únicos que não se rendem ao
"recorte e cole" mais óbvio são
Carl Craig e o Señor Coconut. O
veterano do tecno de Detroit faz
uma versão hipnótica de "Angola", temperando o seu bate-estaca
com a percussão original. Já o alemão, que esteve em São Paulo na
semana passada, dialoga bem
com a versão de Evora para "Besame Mucho", transformado-a
num simpático chachachá.
Quem sente "sodade" da Cesaria Evora original deve esperar o
lançamento de "Vozes de Amor",
só com canções inéditas, previsto
para 30 de setembro.
Club Sodade
Artista: Cesaria Evora
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 27, em média
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