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"COLATERAL"
Novo longa do mesmo do diretor de "Ali" defende o improviso como saída para as incertezas do mundo
A vida nada bela da Los Angeles de Mann
PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Colateral" é como um
jazz saído do sax de Dexter
Gordon. Há, primeiramente, um
sentimento de solidão acompanhado de êxtase. Depois, a dissonância e o improviso atentando
contra o que seria uma ordem (a
sonora), mas resultando numa
harmonia que ludibria a dor e a
tristeza. Ou seja, um certo jogo
entre forças contrárias.
Pois o filme de Michael Mann
mostra já no início uma harmonia
aparente, nas previsões de congestionamento, horários, carros
lustrosos que percorrem as ruas
daquela Los Angeles noturna que
mais parece uma Bagdá devastada, de tão deserta e triste.
O taxista Max (Jamie Foxx) peleja há 12 anos por seus projetos e
discursa sobre o controle das coisas. Seguro, em princípio, este homem é mais outro bastardo nesse
mundo de solitários inseguros.
Daí chega à cidade o matador de
aluguel Vincent (Tom Cruise),
contratado para executar uma
meia dúzia de testemunhas de
acusação contra um traficante. A
idéia é usar o mesmo táxi para fazer o serviço, e um incidente faz
com que Max tenha de acompanhar a noitada do cliente.
Vincent, logo que entra no carro, confessa detestar Los Angeles,
sobretudo pela falta de conexão
entre as coisas. Este homem, não
menos solitário que Max, percebe
a dureza da vida e a impossibilidade de controle das coisas, que
acabam sempre vazando para um
terreno desconhecido e brutal.
Ele está um passo à frente do taxista que ainda crê na solidariedade daquela cidade-fantasma. E
não é mais feliz, mas sim resolvido o bastante para sobreviver e
rasgar ironias sobre a existência
nesse mundo moderno, arrivista
e desumano. A idéia de Vincent é
que na fragilidade da ordem o
único caminho possível é o do risco, da discrepância e, melhor ainda, do improviso.
Vincent, então, convida Max,
amante da música clássica, a conhecer a arte do improviso num
night club: na modernidade do
cool jazz de Miles Davis, Gordon e
outros. Ali, os olhos do bandido
tanto brilham que o peso da morte parece sair da sua aura.
O improviso, que também nada
mais é que enxergar ludicamente
a dor e o inesperado, trará algo de
novo a Max. Algo que, mais tarde,
será explicitado num coiote que
surge à frente do carro, item selvagem e discrepante naquele asfalto
e que fecunda o momento de interação entre aqueles dois desgraçados que não abandonaram, cada
um a seu modo, a crença na vida.
E Michael Mann, sempre grande, não troca seu cinema tão planejado para defender o improviso
que dribla a dor da vida.
Colateral
Collateral
Direção: Michael Mann
Produção: EUA, 2004
Com: Tom Cruise, Jamie Foxx
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Central Plaza e circuito
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