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LIVROS
ROMANCE
Autor de "Minha Vida, Uma Farsa" comenta universo pós-colonial britânico
Para Peter Carey, escrever é "falhar na maioria dos dias"
DA REPORTAGEM LOCAL
Leia abaixo a continuação da
entrevista com o escritor australiano Peter Carey.
(MS)
Folha - Seu livro, como os anteriores, é uma reflexão sobre a identidade australiana...
Peter Carey - Acho que o passado colonial ainda é muito próximo, está dentro de nós de várias
formas. Tudo ainda está por ser
feito. Não sabemos de fato quem
somos. É uma oportunidade maravilhosa para um artista. É muito
libertador e difícil de fazer. Meu
avô, que nunca tinha ido para o
Reino Unido, se referia à Inglaterra como a sua casa...
Folha - A ação se passa na Austrália, em Londres e na Malásia. Você
queria revolver o passado colonial?
Carey - Era interessante ter a figura do poeta inglês, um sujeito
que representa um certo esnobismo britânico. Quando pensei no
monstro, o poeta inventado que
iria raptar a menina, pensei numa
perseguição. Queria que ele não
conhecesse as palavras, e a Malásia era uma boa idéia. Também
queria usar a floresta, os nomes
das plantas desconhecidas. Achei
que isso seria um pouco assustador. Também vi pessoas com
doenças típicas da região e isso
me levou à figura do fraudador.
Folha - Você mora em Nova York
há 15 anos...
Carey - [risos] Eu não planejei isso. Vou levando um dia depois do
outro... Continuo ligado à Austrália. Uma das vantagens é que acabamos tendo uma visão mais crítica, vemos o país mudar.
Folha - Você é um dos dois únicos
autores a ter recebido duas vezes o
Booker Prize. Não há uma pressão
para que escreva grandes obras?
Não é um peso ter essa distinção?
Carey - Nem consigo descrever
como é leve esse peso [risos]. Escrever um livro é muito difícil, significa falhar na maioria dos dias.
A complicação e a dificuldade em
se inventar já é suficiente. Realmente não há espaço para se pensar em mais nada, em como as
pessoas vão reagir ou o que vão
achar do seu livro. Acho que se
me preocupasse com isso, não
conseguiria escrever. De fato,
quando tinha os meus 20 anos,
achava que meus pais nunca leriam o que eu escrevia, o que de
fato aconteceu [risos].
Folha - Você fez o roteiro de "Até
o Fim do Mundo", de Wim Wenders. Não pensa mais em cinema?
Carey - Não tenho intenção de
trabalhar nessa área. Fiz a adaptação para o cinema de um livro do
meu amigo Paul Auster, "The
Locked Room" [o quarto trancado, um dos três contos que integram o livro "A Trilogia de Nova
York"]. Ficamos contentes com o
roteiro, mas o filme não foi feito.
Foi logo após "Cortina de Fumaça" (95) e "Sem Fôlego" (97), de
Wayne Wang. Ele iria dirigir. Escrevo livros e fico feliz em não ter
pessoas dizendo o que está errado
neles... "Até o Fim do Mundo" é
um filme de Wim Wenders. Ele é
um cara legal, foi uma experiência
divertida, mas é um filme dele...
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