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"Procuramos o pequeno para achar o grande'
DO ENVIADO A AVIGNON (FRANÇA)
Ariane Mnouchkine é nome
catalisador no teatro francês.
Basta acompanhar sua presença no Festival de Avignon, há
anos um espaço cativo para
seus espetáculos e falas públicas. Os espectadores, os artistas
e a crítica jamais lhe são indiferentes. Nem ela.
Uma das fundadoras do
Théâtre du Soleil, em 1964, ao
lado de amigos estudantes, a
encenadora é identificada com
as causas socialistas, traduzidas no plano artístico em criações coletivas. Ela já visitou o
Brasil em várias ocasiões, participando de conferências.
Em "Les Éphémères" (os efêmeros), assume a emoção como
vetor para a reflexão. "A emoção não bloqueia o pensamento, faz parte da vida. E o teatro
não pode passar ao largo dela."
A seguir, trechos do breve encontro com a Folha durante
sessão de "Les Éphémères"
num parque expositivo de
Avignon, no mês passado.
(VALMIR SANTOS)
FOLHA - Há uma certa reserva mitificadora em torno de seu nome e do
Théâtre du Soleil. O motivo disso seria a manutenção das utopias dos
anos 60?
ARIANE MNOUCHKINE - Existe essa
mitificação, mas não é minha
culpa. As utopias do grupo são
as mesmas, não acabaram. É
um sonho de 43 anos, e não significa um sonho nas nuvens.
Você o vê aqui, feito de muito
barulho de panela [olha para a
cozinha onde está sentada, nos
bastidores, na qual artistas preparam comida], muito trabalho
e dificuldade; muita alegria e às
vezes um pouco de sofrimento.
FOLHA - E a evolução do ponto de
vista estético?
MNOUCHKINE - Houve mudanças, é claro. Mas penso que o caminho de um grupo de 43 anos
é procurar a vida, a verdade. E
para isso existem momentos,
épocas. É como um pintor que
tem um período azul, outro rosa, cada um a seu tempo. Os
grupos também têm sua época.
FOLHA - Qual o potencial da prática
da criação coletiva hoje?
MNOUCHKINE - Ela se transformou e ficou ainda mais coletiva. Isso é curioso. Antes, quando a encenação não era coletiva, o cenário é que era coletivo.
Era coletivo o trabalho de improvisação, os figurinos, mas a
encenação não. Agora, mesmo
o cenário e a encenação são coletivos.
FOLHA - Qual a expectativa em finalmente se apresentar na América
Latina, onde a criação coletiva é bem
disseminada?
MNOUCHKINE - Nem sempre a
possibilidade do trabalho coletivo é recíproca. Mas a expectativa é gigante, sim. Foi preciso
passar 43 anos para a gente pôr
o pé na América Latina.
FOLHA - "Les Éphémères" parece
valorizar a menor grandeza, os pequenos milagres do cotidiano das
pessoas comuns.
MNOUCHKINE - Sim. No trabalho
de criação a gente procura justamente o pequeno para achar
o grande.
Você tem razão, são pequenos milagres, pequenas gavetas
trancadas com as grandes tragédias. Trata dessa coisa enorme que é a vida humana. Mostra o quanto somos semelhantes em muitos momentos.
FOLHA - Mesmo abandonando o
tom espetacular das montagens anteriores, a sra. acha possível alcançar
essa dimensão épica por meio do
universo íntimo dos personagens?
MNOUCHKINE - Apesar de tudo,
tem algo de épico nesse não
épico. O épico não é sempre
[emite sonoridade onomatopaica para dar noção de grandiosidade]. Mas estou de acordo em ser questionada sobre isso, sobre o sentido real da palavra épico.
O jornalista VALMIR SANTOS viajou a convite
do Consulado Geral da França em São Paulo
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