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Enfim, Théâtre du Soleil vem ao país
Criado há 43 anos, o destacado grupo francês dirigido por Ariane Mnouchkine traz seu novo espetáculo ao Brasil
A cia. mostra em São Paulo e Porto Alegre a obra "Les Éphémères" (os efêmeros), na qual os atores surgem
em plataformas móveis
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A AVIGNON (FRANÇA)
A década atual vai permitindo ao Brasil encurtar distância
em relação à obra de alguns encenadores fundamentais da
Europa -afinal, é o continente
provedor da formação moderna do teatro no país, a partir dos
anos 40. Depois dos espetáculos e da presença do inglês Peter Brook e equipe, é vez da
francesa Ariane Mnouchkine e
o grupo Théâtre du Soleil.
Em 43 anos de atividade, é a
primeira vez que o Soleil se
apresenta por aqui. Tentava-se
trazer o grupo ao país há mais
de 20 anos. Mas sempre se esbarrava na falta de dinheiro.
O Théâtre du Soleil encontrará platéias brasileiras e argentinas que sabem mais da
máquina de entretenimento do
canadense Cirque du Soleil do
que sobre as experiências estéticas e o pensamento humanista de Mnouchkine.
Em entrevista à Folha durante o Festival de Avignon, na
França, em julho, Mnouchkine, 68, minimiza esse tipo de
comparação ou confusão com a
trupe de circo. "Isso não se dá
só no Brasil, mas em muitos
países que visitamos."
Buenos Aires (4 a 15/9), Porto Alegre (27 a 30/9) e São Paulo (12 a 23/10) receberão a obra
mais recente, "Les Éphémères"
(os efêmeros), de 2006.
Ao contrário de peças anteriores, que valorizam plasticidade da cena e conteúdo épico
para lidar com a realidade (caso da saga de refugiados em "Le
Dernier Caravanserail"; 2003),
"Les Éphémères" recua no impacto espetacular e se fixa nas
emoções particulares que movimentam a roda da história.
O espaço cênico é uma pista
ladeada por arquibancadas erguidas uma de frente à outra.
Sucedem quadros que vão e
vêm no tempo e no espaço das
narrativas, momentos de perdas e afetividades vividas por
pessoas comuns, anônimos
despidos de grandes gestos heróicos (a criação nasce do depoimento pessoal e improvisação do elenco).
Na pista de platéia bifrontal,
os atores surgem em pequenas
plataformas móveis, circulares
ou retangulares. Elas são nichos cenográficos (quarto, sala,
jardim, escritório etc.) que giram através das mãos dos próprios atores contra-regras.
Mnouchkine evoca a imagem
de um planetário, força de gravitação entre pessoas e sentimentos comuns.
O espetáculo legendado poderá ser visto em duas partes,
uma por dia, ou em sessões integrais que duram em média
oito horas e meia.
Todas incluem o ambiente
de um restaurante rústico, um
bar. Nele, antes do início e nos
intervalos, o público pode comprar e comer pratos com carne
e legumes elaborados por alguns dos próprios artistas.
O espírito agregador da comida faz parte da identidade do
Soleil. É assim na sede, a Cartoucherie, em Paris. Nas viagens, o grupo procura partilhar
essa cultura de teatro. A montagem envolve 61 pessoas, entre atores, técnicos e crianças.
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