São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008

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Maestro deixa Osusp e ataca burocracia

Carlos Moreno se queixa de que a metade dos músicos não é contratada, precisando se apresentar em troca de cachês

O regente também reclama de seu contrato, "de caráter especial", não ter sido transformado em um cargo permanente


JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O maestro Carlos Moreno responsabilizou a burocracia interna da Universidade de São Paulo pela decisão de se demitir da direção musical de sua orquestra sinfônica, a Osusp, que ele dirigia desde 2002.
Cita o fato de seu contrato, "de caráter especial", não ter sido transformado num cargo permanente. Também se queixa de que a metade dos músicos -cerca de 40- não é contratada, precisando se apresentar em troca de cachês.
Queixou-se também da interrupção da série "Aquarela" de concertos, que chegou a produzir 32 récitas por ano. E do congelamento do projeto "Academia", pelo qual a Osusp mantinha 25 jovens bolsistas.
Apesar de tudo, Carlos Moreno afirma "fazer questão de deixar registrada a minha gratidão à universidade, que terá em mim um aliado". Em entrevista à Folha, disse também que "aconteceram algumas coisas que eu prefiro não comentar".
Entre as que comentou há o exemplo de suas duas últimas viagens ao exterior. Ele foi ao Japão, no início de julho, e, no mês seguinte, à República Tcheca, onde há três anos leciona regência num festival.
No dia de seu primeiro embarque, afirmou, a direção administrativa da orquestra argumentou não ter encontrado uma forma para que a viagem fosse oficialmente autorizada. "Eu fui dentro da USP uma espécie de ET: não era docente, mas não era tampouco um contratado pela CLT."
Sem a autorização, ele se exporia a ser demitido por abandono do cargo, embora fosse ao Japão para formalizar o convite para a vinda ao Brasil de um coral que se apresentaria com a orquestra. "Então decidi apresentar minha demissão em caráter irrevogável", afirmou. Mesmo assim, continuará a reger a orquestra nos concertos programados até o final do ano.
Disse também não ter conseguido uma remuneração melhor para os músicos. Eles hoje ganham em torno de R$ 3.300 mensais. Ou de pagar de forma diferenciada o spalla -o violinista que é o segundo homem na hierarquia da orquestra- ou qualquer músico que atuasse como solista.
Para Moreno, a USP ganhou uma orquestra sinfônica de altíssimo padrão -é a opinião dos críticos, que lhe deram em 2006 o prêmio Carlos Gomes- , mas a estrutura burocrática não assimilou sua existência, tratando-a "como uma espécie de corpo estranho".
A universidade poderia dar à orquestra o mesmo tratamento dado ao setor de informática, que foi objeto de um plano específico de carreira, argumentou. Mas isso não aconteceu. O maestro disse nunca ter discutido a questão com a reitoria.


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