São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/DVD/"Blaxploitation"

Caixa é boa e variada amostra do cinema negro do início dos anos 70

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Para mostrar que o cinema negro americano não começou com Spike Lee, chega ao mercado de DVDs a caixa "Blaxploitation", com os filmes "Rififi no Harlem" (1970), "Sweet Sweetback's Baadasssss Song" (1971) e "O Chefão do Gueto" (1973).
O termo "blaxploitation", contração das palavras "black" (negro) e "exploitation" (exploração), designa um filão de filmes destinados às emergentes platéias negras urbanas, no início dos anos 70. O maior sucesso talvez tenha sido "Shaft" (1971, com remake em 2000).
Temática, elenco, estilo, música, tudo era "black" nesse cinema, do qual os três DVDs são uma boa e variada amostra.
"Rififi no Harlem" é um policial satírico baseado no livro "Cotton Comes to Harlem", de Chester Himes. Coloca em ação os detetives negros Gravedigger Jones (Godfrey Cambridge) e Coffin Ed Johnson (Raymond St. Jacques). Com métodos pouco ortodoxos, a dupla se empenha em colocar atrás das grades um pastor que tapeia a comunidade negra do Harlem prometendo um retorno a uma África mítica de paz e liberdade.
No quiproquó que se segue, em que se misturam Panteras Negras e mafiosos italianos, além de policiais de todas as etnias, vêm à tona, sob o signo do humor, os grandes temas abordados posteriormente por Spike Lee: a opressão racial, os conflitos no interior da própria comunidade negra, a engabelação religiosa, a criminalidade como falsa saída. Não por acaso, o diretor Ossie Davis seria escalado por Lee como ator em filmes como "Faça a Coisa Certa" e "Febre na Selva".

Pornô
"Sweet Sweetback's Baadasssss Song", dirigido, montado e estrelado por Melvin Van Peebles, é o filme mais insólito da caixa. Conta, em estilo mezzo-psicodélico, mezzo-militante, a história de um garanhão de espetáculos pornô, o "Sweetback" ("bem-dotado") do título, que se torna um fugitivo da lei depois de enfrentar policiais que espancam um jovem ativista negro.
Muita câmera na mão, cores estouradas, desfocamento voluntário da imagem, montagem descontínua, todos os cacoetes do cinema underground da época marcam presença.
Por fim, "O Chefão do Gueto", único filme do lote feito por um branco (Larry Cohen, diretor de pérolas do terror B, como "Nasce um Monstro" e "A Coisa"), é o mais eficiente -e convencional- do ponto de vista narrativo, reproduzindo em chave "black" o esquema de inúmeras sagas de ascensão e queda de um gângster.
Além do ótimo elenco, com Fred Williamson e a bela Gloria Hendry (a primeira Bond Girl negra, de "Viva e Deixe Morrer"), um dos trunfos aqui é a trilha sonora de James Brown.
Os manos e as minas não podem perder.


BLAXPLOITATION
Distribuição: Magnus Opus
Quanto: R$ 117, 50, em média
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos ("Rififi no Harlem" e "O Chefão do Gueto") e para menores de 18 anos ("Sweet Sweetback's...")
Avaliação: bom




Texto Anterior: Festival de Veneza começa com Pitt, Clooney e Cakoff
Próximo Texto: Maestro deixa Osusp e ataca burocracia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.