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CRÍTICA ERUDITO
CD traz incursão dodecafônica de Guarnieri
Com Max Barros ao piano, disco reúne concertos elaborados no sistema atonal do qual o compositor era crítico
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ele fez virulenta campanha contra o dodecafonismo
para, depois, adotá-lo.
O segundo e último volume da gravação integral dos
seis concertos para piano e
orquestra do paulista Camargo Guarnieri (1907-1993) para o selo Naxos mostra a incursão do compositor no sistema de composição que ele
criticara com estardalhaço.
Desenvolvido pelo austríaco Arnold Schönberg (1874-1951) e propagandeado por
aqui pelo alemão Hans Joachim Koellreuter (1915-2005),
o método dodecafônico, atonal e vanguardista, foi chamado de "crime de lesa-pátria" por Guarnieri na célebre
"Carta Aberta aos Músicos e
Críticos do Brasil", de 1950.
Décadas depois, o próprio
compositor experimentaria a
técnica que anatemizara como "nefasta infiltração formalista e antibrasileira".
Isso fica evidente nos concertos para piano e orquestra
nº. 4 (1968) e nº. 5 (1970), interpretados por Max Barros,
pianista nascido na Califórnia, criado no Brasil e radicado em Nova York.
Acompanhado pela excelente Filarmônica de Varsóvia, regida por Thomas Conlin, Barros defende com
convicção aquele que talvez
seja, ao lado do de Villa-Lobos, o mais importante grupo
de concertos para piano e orquestra de autor brasileiro.
O nº. 4 é uma obra agressiva e virtuosística, com uma
paleta orquestral inovadora,
que exclui violinos e privilegia instrumentos de sopro.
Também marcado pelo desejo de experimentar -e de
audição igualmente estimulante-, o nº. 5 paira em torno
do caráter onírico de seu movimento lento, sugestivamente chamado "Sideral".
O entreato dodecafônico
de Guarnieri, contudo, durou
pouco mais de uma década,
ao fim da qual o compositor
acabou por retomar o idioma
francamente "nacional" que
foi sua marca registrada.
Nessa linguagem está escrito seu sexto e derradeiro
concerto para piano, de 1987,
de instrumentação mais econômica, duração mais breve
e escrita solista menos exigente que suas obras anteriores no gênero, da qual esta é
a primeira gravação.
CAMARGO GUARNIERI:
PIANO CONCERTOS 4, 5 & 6
ARTISTA Max Barros (piano);
Filarmônica de Varsóvia (Thomas
Conlin, regente)
GRAVADORA Naxos
QUANTO R$ 26, em média
AVALIAÇÃO ótimo
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