São Paulo, sexta-feira, 27 de agosto de 2010

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CRÍTICA ERUDITO

CD traz incursão dodecafônica de Guarnieri

Com Max Barros ao piano, disco reúne concertos elaborados no sistema atonal do qual o compositor era crítico

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ele fez virulenta campanha contra o dodecafonismo para, depois, adotá-lo.
O segundo e último volume da gravação integral dos seis concertos para piano e orquestra do paulista Camargo Guarnieri (1907-1993) para o selo Naxos mostra a incursão do compositor no sistema de composição que ele criticara com estardalhaço.
Desenvolvido pelo austríaco Arnold Schönberg (1874-1951) e propagandeado por aqui pelo alemão Hans Joachim Koellreuter (1915-2005), o método dodecafônico, atonal e vanguardista, foi chamado de "crime de lesa-pátria" por Guarnieri na célebre "Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil", de 1950.
Décadas depois, o próprio compositor experimentaria a técnica que anatemizara como "nefasta infiltração formalista e antibrasileira".
Isso fica evidente nos concertos para piano e orquestra nº. 4 (1968) e nº. 5 (1970), interpretados por Max Barros, pianista nascido na Califórnia, criado no Brasil e radicado em Nova York.
Acompanhado pela excelente Filarmônica de Varsóvia, regida por Thomas Conlin, Barros defende com convicção aquele que talvez seja, ao lado do de Villa-Lobos, o mais importante grupo de concertos para piano e orquestra de autor brasileiro.
O nº. 4 é uma obra agressiva e virtuosística, com uma paleta orquestral inovadora, que exclui violinos e privilegia instrumentos de sopro.
Também marcado pelo desejo de experimentar -e de audição igualmente estimulante-, o nº. 5 paira em torno do caráter onírico de seu movimento lento, sugestivamente chamado "Sideral".
O entreato dodecafônico de Guarnieri, contudo, durou pouco mais de uma década, ao fim da qual o compositor acabou por retomar o idioma francamente "nacional" que foi sua marca registrada.
Nessa linguagem está escrito seu sexto e derradeiro concerto para piano, de 1987, de instrumentação mais econômica, duração mais breve e escrita solista menos exigente que suas obras anteriores no gênero, da qual esta é a primeira gravação.

CAMARGO GUARNIERI:
PIANO CONCERTOS 4, 5 & 6

ARTISTA Max Barros (piano); Filarmônica de Varsóvia (Thomas Conlin, regente)
GRAVADORA Naxos
QUANTO R$ 26, em média
AVALIAÇÃO ótimo


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