ÁLVARO DE MOYA
especial para a Folha

À primeira vista, Garfield seria um, ou mais um, desses personagens criados apenas para gerar um mundo de merchandising, que invade a aldeia global dominado pelas multinacionais.
Essas "criações" têm vida curta e servem apenas para provar que estamos em uma fase de enganação. Ou podem ser uma brincadeira, uma crítica a esse consumismo, como as Tartarugas Ninjas, inventadas por Kevin Eastman.
As tiras diárias -nascedouro infinito de obras-primas-, nos anos 50, deram início a uma riquíssima fase, iniciada pela excelente tira de Charles Schulz, Minduim ou Charlie Brown.
A partir daí, os "syndicates" distribuidores de tiras para jornais notaram que o leitor não era idiota e possibilitaram o surgimento de trabalhos notáveis: Hagar, do falecido Dik Browne, Dilbert e Doonesbury, de Gary Trudeau, alcançando seu pináculo com Calvin e Haroldo (Hobbes), de Bill Watterson, a melhor coisa dos últimos tempos nas tiras diárias.
Desde 19 de junho de 1978, quando a primeira tira de Garfield saiu nos jornais, o sucesso não cessou.
Os números divulgados são dos mais expressivos em toda a história dos quadrinhos. Duzentos milhões de leitores diários no planeta superam os números da TV em eventos como Olimpíadas, Copa do Mundo e catástrofes. São milhões diários, há 20 anos!
Quem tem gato nota as sutilezas do mundo felino. Quem não tem agradece aos céus não ser um Jon Arbuckle. Quem tem um Odie e não gosta de gatos reconhece que cães são menos espertos que gatos. O humor fino, a criatividade, a desenvoltura em focalizar qualidades e defeitos felinos numa constante obra de construção demonstram a qualidade sob o sucesso.
Os gatos do passado, dos "comics", desde Félix, Tom, Cícero (uma gata, apesar do nome) e tantos outros até Fritz, o gato pornô, devem se orgulhar de ter alguém como Jim Davis e equipe, que mantêm o mundo felino bem representado no mundo dos quadrinhos de humor.