São Paulo, Segunda-feira, 27 de Setembro de 1999
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TELEVISÃO

"Terra Nostra" à espera do pôr-do-sol

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

Dos tuiuiús a Ana Paula Arósio, esse noveleiro Benedito Ruy Barbosa sempre andou de olho na era do home-theatre. Adora um gigantesco. Sua nova novela exige letras enormes para escrever o "Terra Nostra" que é o seu nome.
Tudo começa num navio cheio de imigrantes italianos que vêm para o Brasil substituir os negros que a princesa libertou.
Para a turma dos home-theatres, esses imigrantes parecem estar viajando na terceira classe do Titanic. Mas, para a maioria do vídeo pequeno, tudo é mais parecido com aquele camarote lotado da comédia dos irmãos Marx.
É tudo tão apertadinho que a bela Ana Paula Arósio tem que dormir em cima do belíssimo Thiago Lacerda, gerando, nessa promiscuidade, o primeiro dos oriundi. A maioria dos imigrantes que o navio trouxe vai para a fazenda do Antônio Fagundes, com os cabelos pretos puxados para um encontro qualquer na nuca.
Faz uma figura demoníaca e assustadora. Quer acomodar os que chegaram da bela Itália no mesmo espaço que acomodou os que chegavam da negra África.
É com certa impaciência que ouve as sugestões de que terá que construir uma senzala-bairro, à maneira dos prefeitos cariocas com suas favelas.
O Thiago Lacerda, separado de sua Arósio, foi parar nos domínios desse implacável Fagundes, que tem uma filha (Paloma Duarte) que quer casar com Deus. Até ver o Thiago de torso nu. Mudou logo de idéia. Agora quer casar com um deus.
Enquanto isso, a Arósio está bem melhor acomodada na casa do Raul Cortez, que apela maravilhosamente para o humor toda vez que discute com sua mulher, uma brasileira de boa família. Cortez, um italiano, diverte todo mundo não importa o tamanho do vídeo. Ele é pai do Marcelo Anthony, um rapaz, que sem saber que está sendo ofuscado pela primeira quer ajudar o encontro da Arósio com seu amado. Diz ele.
De vez em quando aparecem imagens da São Paulo que os imigrantes encontraram. Nenhum deles já chegou à imponência. Não há vestígio de edifício Martinelli. Entre os italianos recém- chegados está o sempre animador Antonio Calloni. Coitada de sua mulher. Vai ser doméstica da Débora Duarte, que, acostumada com as negras, trata a italiana com todo tipo de grosseria.
Até que haja uma reviravolta nas relações entre patrões e imigrantes, tudo deverá continuar rotineiro e enfadonho. Talvez no dia em que a Arósio e o Thiago se reencontrarem ganharemos um pôr-do-sol bem deslumbrante, como é do gosto do Benedito. Porque os brasileiros vão levar muito tempo para saber com quem estão falando. Como alguns ainda não sabem.



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