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TELEVISÃO
"Terra Nostra" à espera do pôr-do-sol
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Dos tuiuiús a Ana Paula Arósio, esse noveleiro Benedito Ruy
Barbosa sempre andou de olho
na era do home-theatre. Adora
um gigantesco. Sua nova novela
exige letras enormes para escrever o "Terra Nostra" que é o seu
nome.
Tudo começa num navio cheio
de imigrantes italianos que vêm
para o Brasil substituir os negros
que a princesa libertou.
Para a turma dos home-theatres, esses imigrantes parecem estar viajando na terceira classe do
Titanic. Mas, para a maioria do
vídeo pequeno, tudo é mais parecido com aquele camarote lotado
da comédia dos irmãos Marx.
É tudo tão apertadinho que a
bela Ana Paula Arósio tem que
dormir em cima do belíssimo
Thiago Lacerda, gerando, nessa
promiscuidade, o primeiro dos
oriundi. A maioria dos imigrantes que o navio trouxe vai para a
fazenda do Antônio Fagundes,
com os cabelos pretos puxados
para um encontro qualquer na
nuca.
Faz uma figura demoníaca e
assustadora. Quer acomodar os
que chegaram da bela Itália no
mesmo espaço que acomodou os
que chegavam da negra África.
É com certa impaciência que
ouve as sugestões de que terá que
construir uma senzala-bairro, à
maneira dos prefeitos cariocas
com suas favelas.
O Thiago Lacerda, separado de
sua Arósio, foi parar nos domínios desse implacável Fagundes,
que tem uma filha (Paloma
Duarte) que quer casar com Deus.
Até ver o Thiago de torso nu. Mudou logo de idéia. Agora quer casar com um deus.
Enquanto isso, a Arósio está
bem melhor acomodada na casa
do Raul Cortez, que apela maravilhosamente para o humor toda
vez que discute com sua mulher,
uma brasileira de boa família.
Cortez, um italiano, diverte todo
mundo não importa o tamanho
do vídeo. Ele é pai do Marcelo
Anthony, um rapaz, que sem saber que está sendo ofuscado pela
primeira quer ajudar o encontro
da Arósio com seu amado. Diz
ele.
De vez em quando aparecem
imagens da São Paulo que os imigrantes encontraram. Nenhum
deles já chegou à imponência.
Não há vestígio de edifício Martinelli. Entre os italianos recém-
chegados está o sempre animador
Antonio Calloni. Coitada de sua
mulher. Vai ser doméstica da Débora Duarte, que, acostumada
com as negras, trata a italiana
com todo tipo de grosseria.
Até que haja uma reviravolta
nas relações entre patrões e imigrantes, tudo deverá continuar
rotineiro e enfadonho. Talvez no
dia em que a Arósio e o Thiago se
reencontrarem ganharemos um
pôr-do-sol bem deslumbrante, como é do gosto do Benedito. Porque os brasileiros vão levar muito
tempo para saber com quem estão falando. Como alguns ainda
não sabem.
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