São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2001

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MASP

Tema religioso foi escolhido para ser contraponto ao barroco brasileiro

Civilização visual é apelo dos egípcios, diz curadora

DA REPORTAGEM LOCAL

Há pelo 22 anos, a curadora francesa Elisabeth Delange já está contaminada pela "febre dos faraós", que invade São Paulo, em 2001. É esse o tempo que ela circula entre as 60 mil peças de arte egípcia do Museu do Louvre, como uma das conservadoras do setor, o mais visitado do local.
Entretanto, foi passando por outro museu, o Petit Palais, também em Paris, que Delange escolheu o tema da mostra no Masp. "Vi a mostra do barroco brasileiro lá e percebi a força da religião que existe no país, assim foi natural escolhê-la como tema da mostra aqui, pois ela também é o coração da civilização egípcia", disse anteontem à Folha, durante a montagem da exposição. Todas as peças na mostra foram escolhidas por Delange, com exceção das obras da coleção do Masp e da Fundação Klabin, selecionadas por Antonio Brancaglion Jr.
Para Delange, o apelo que mostras sobre o Egito exercem em todo o mundo ocorre por ela ter sido uma "civilização visual". "Até analfabetos podem penetrar nesse universo", explica.
Por isso, a cenografia da mostra é a mais discreta possível. Até mesmo as legendas das imagens foram colocadas de forma a não poluir as obras. "O importante é que cada um, mesmo sem conhecer a história, confie em seu olhar", afirma Delange.
Para a mostra no Brasil, várias peças chegaram a ser restauradas no Louvre, como o conjunto de sarcófagos de Sutymés, um dos destaques da exposição, situado logo na entrada do 2º subsolo. "São peças muito coloridas, da 21ª dinastia, no ano 1.000 a.C., época que a decoração era muito trabalhada", conta Delange. As inscrições nas peças são preces à deusa Iris. Cinco obras são inéditas até mesmo no Louvre, nunca tinham saído de sua reserva técnica.
As peças são de um período bastante abrangente: do século 2.000 a.C. ao século 4 a.C. "É um momento importante para o desenvolvimento das crenças, com a firmação de várias divindades, como Osiris", diz Delange. Outra das características da curadoria é a escolha de materiais diversos. Há desde papiros a esculturas de três toneladas.
Delange dividiu a mostra em cinco segmentos: Deuses, Protetores do Rei; Presença Divina, Multiplicidade dos Deuses; Culto aos Deuses; Deuses, Protetores dos Homens; Deuses, Protetores do Morto e do Além.
A coincidência de duas mostras do Louvre em São Paulo não pára nos egípcios. Na próxima semana, serão inauguradas ainda duas exposições com acervos franceses: "Parade", na Oca, com obras do Centro Georges Pompidou, e "Porta do Inferno", com peças do Museu Rodin. Prepare-se. (FABIO CYPRIANO)


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