São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2001

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MASP

"Vamos recorrer da decisão", diz o presidente da instituição, Julio Neves

Iphan deve tombar museu sem contemplar reformas

DA REPORTAGEM LOCAL

Não vai ter festa, e a reforma pela qual o Masp passou nos últimos cinco anos mudou de nome. Agora é "processo de revitalização", segundo o presidente do museu, o arquiteto Julio Neves.
Desde 1997, o Masp passou por uma reformulação completa. No total, R$ 20 milhões foram gastos com as transformações, sendo R$ 5 milhões vindos de doações, como o novo elevador. A lista de mudanças é grande. Mas a polêmica em torno delas também.
A que vem a público nos próximos dias é o parecer sobre o pedido de tombamento do museu, que está sendo realizado pelo Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural, o Iphan.
Segundo Roberto Saruê, superintendente regional em São Paulo, o relatório que sua unidade prepara deve apontar para o tombamento do museu, mas com algumas ressalvas, justamente as alterações feitas no local sob a direção de Neves.
"O Iphan deve reconhecer o Masp como bem de interesse nacional, com algumas exceções, especialmente essa reforma", disse Saruê, com exclusividade à Folha.
Para realizar o relatório, os técnicos do Iphan pesquisaram o projeto original de Lina Bo Bardi. "O importante não é só o prédio, mas o conceito de Lina; a transparência nas salas de exposição, uma de suas principais características, foi alterada." Ele se refere ao segundo piso do Masp, no qual foram levantadas paredes no lugar dos cavaletes criados por Bardi. Contudo, de acordo com Saruê, o parecer não terá poder para fazer o museu retornar à sua forma original.
"Cabe recurso a tudo que for decidido pelo Iphan em São Paulo", argumenta Neves. "Eu sei o que Lina queria, acompanhei a realização do projeto junto com ela", justifica. Cita, por exemplo, porque trocou o piso de pedra mineira dos subsolos por granito: "A pedra foi colocada porque aquele espaço voltaria ao Trianon [antigo salão de festas da cidade" e com esse tipo de revestimento ela deu um golpe neles, pois ninguém poderia dançar: o piso soltava poeira; mas esse material danificava as obras, era fundamental trocá-lo".
As outras mudanças são também defendidas: "O novo piso no térreo e o novo elevador são pedidos das associações de deficientes físicos, que não tinham acesso adequado ao museu". Já a mais polêmica das alterações, a retirada dos cavaletes de vidro e concreto, não é definitiva para Neves. "Apenas deixamos de ser escravos de uma única forma de exposição, os cavaletes podem voltar."
Antes de o Iphan divulgar seu parecer, deve organizar um debate com a sociedade civil. "Queremos envolver todos os interessados, o Masp é um patrimônio da cidade", diz Saruê. (FCy)


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